Chuvas extremas em SP serão cada vez mais comuns, diz cientista
Pesquisador pondera, no entanto, que a falta de planejamento urbano e aumento de pessoas em situação de risco são fator principal do desastre
Por Giovana Girardi
Atualização:
SÃO PAULO - As intensas chuvas que atingiram a Região Metropolitana de São Paulo na madrugada e na manhã desta segunda-feira, 10, são exemplo de um fenômeno que tem se tornado cada vez mais comum na região, causado em parte pelas mudanças climáticas e pelo processo de urbanização desorganizada da cidade.
Uma revisão dos registros de chuvas ao longo das últimas sete décadas aponta que houve um aumento significativo no volume total de precipitação nas temporadas de chuva ao longo do período. Enquanto na década de 1950 praticamente não havia dias com chuvas fortes – expressão usada para designar precipitações com mais de 50 mm –, hoje elas têm ocorrido de duas a cinco vezes por ano nos últimos dez anos.
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É o que mostra um trabalho recém-publicado por vários pesquisadores brasileiros liderados pelo climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Os eventos extremos estão cada vez mais frequentes, ao mesmo tempo em que a vulnerabilidade da população também. Por isso desastres como enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra afetam cada vez mais pessoas”, disse Marengo ao Estado.
Nesta segunda, ao falar sobre como o governo está lidando com o problema, tanto o governador João Doria (PSDB) quanto o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, argumentaram que as chuvas têm aumentado por causa das mudanças climáticas. Doria chegou a afirmar que “evitar por completo” os estragos com investimentos em infraestrutura não será possível em razão disso.
Chuva forte causa alagamentos em São Paulo
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Trator carrega pessoas na Lapa
Trator faz carreto de pessoas na Av. Marquês de São Vicente, Lapa, um dos bairros mais afetados pela chuva Foto: Ana Carolina Sacoman
Alagamentos em São Paulo
Até caiaque foiusado nas ruas de São Paulo nesta segunda-feira, 10, para enfrentar os alagamentos Foto: Andre Penner/ AP
Alagamentos em São Paulo
Imagem feita sobre a Ponte Júlio de Mesquita Neto, na zona norte da capital, de umpedestre atravessando a Marginal Pinheiros Foto: Felipe Rau/ Estadão
Alagamentos em São Paulo
Homem caminha em ponto de alagamento em São Paulo, nesta segunda-feira, 10 Foto: Andre Penner/ AP
Alagamentos em São Paulo
Fortes chuvas causaramalagamento na avenida Marquês de São Vicentena manhãdesta segunda-feira, 10, em São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão
Alagamentos em São Paulo
Um forte temporal atingiu a capital na madrugada desta segunda-feira, 10, elevando o volume de chuva dos 10 primeiros dias de fevereiro a 208 milímetr... Foto: Miguel Schincariol/ AFPMais
Alagamentos em São Paulo
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esta é a pior chuva de São Paulo para um mês de fevereiro desde 1983 Foto: Fernando Bizerra/ EFE
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Mulher tenta escapar de alagamento no Butantã, em São Paulo Foto: Rahel Patrasso/ Reuters
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Fortes chuvas causaram alagamento na avenida Doutor Abrahão Ribeiro, próxima ao Fórum Criminal, na zona norte de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão
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Bombeiros tentam resgatar motoristas com helicóptero na Marginal Tietê, mas desistem e retiram as pessoascom bote Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Resgate com helicóptero na Marginal do Rio Tietê, em São Paulo Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Pessoas precisaram ser resgatadas após oRio Tietêtransbordar e alagar todas as pistas da Marginal na região da Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Rio Tietêtransborda e alaga todas as pistas da Marginal na região da Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Pedestres atravessam ponto de alagamento na Avenida Marquês de São Vicente, em São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão
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Rio Tietêtransborda e alaga todas as pistas da Marginal na região da Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Rua Cônego Araujo, no bairro do Limão, zona norte,alagada devido a forte chuva que atingiu a cidade de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão
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O rio Tietê transbordou nesta segunda-feira, 10, e interditou a marginalna altura da Ponte da Casa Verde, no sentido Ayrton Senna, na zona norte de Sã... Foto: Werther Santana/ EstadãoMais
Alagamentos em São Paulo
Pessoas ilhadas após o Rio Tietêtransbordar e alagar todas as pistas da Marginal na região da Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Marginal Tietêinundada na altura da Ponte do Limão, na zona norte da capital paulista Foto: Werther Santana/ Estadão
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Rio Tietêtransbordoue alagoutodas as pistas da marginal na região da Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Alagamentos atingem a cidade de São Paulo na manhã desta segunda-feira, 10 Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Temporal desta segunda-feira, 10,foi maior chuva de São Paulo em quase 40 anos Foto: Fernando Bizerra/ EFE
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Última vez que choveu tanto em fevereiro foi em 1983; nesta segunda-feira, 10, foram registrados mais de 130 pontos de alagamento Foto: Fernando Bizerra/ Estadão
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Marginal do Rio Tietê,sentido rodovia Ayrton Senna, vista da ponte Júlio de Mesquita Neto Foto: Felipe Rau/ Estadão
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Ao todo, foram registrados 132 pontos de alagamentos na grande São Paulo durante o início do dia, 66 deles intransitáveis, de acordo com o Centro de G... Foto: Miguel Schincariol/ AFPMais
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Rio Tietêtransbordoue alagoutodas as pistas da Marginal na região da Ponte das Bandeiras, em São Paulo Foto: Hélvio
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Ruas próximas ao terminal intermodal da Barra Funda inundadas após forte chuva que cai desde a madrugada desta segunda-feira, 10 Foto: Werther Santana/ Estadão
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Alagamento na avenidaCruzeiro do Sul, em São Paulo Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Alagamento na Marginal Tietê, sob a Ponte das Bandeiras Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Alagamentos atingem a cidade de São Paulo nesta segunda-feira, 10 Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Registro do alagamento na Marginal Tietê, próximo a Ponte das Bandeiras, em São Paulo Foto: Hélvio Romero/ Estadão
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Mulheres atravessam rua alagada no bairroButantã, em São Paulo Foto: Rahel Patrasso/ Reuters
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Alagamento na avenidaCruzeiro do Sul, em São Paulo, em 10/02/2020 Foto: Hélvio Romero/ Estadão - 10/02/2020
“Evitar por completo não será, evidentemente, algo possível, já que a incidência de chuvas ao longo dos anos, a mudança climática, está impondo um volume de chuvas maior”, disse Doria, logo após um evento de inauguração de um escritório da agência de investimentos estadual, a Investe SP, em Dubai.
“Mudança climática não é discurso de ambientalista. Está chovendo nessa década o que não choveu no século passado”, disse Penido. Segundo a pasta, apenas nesta madrugada, choveu 66% do total esperado para todo o mês de fevereiro. De acordo com Penido, os mais de 78 pontos de alagamento registrado pelo Centro de Gerenciamento de Emergências Climática (CGE) aconteceram porque o volume de chuva ultrapassou o que estava previsto na série histórica de 100 anos, usada para calcular o sistema de drenagem das chuvas. “Tudo foi implantado com essa lógica.”
De fato, análises feitas sobre as séries históricas de registro de chuva feitas pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Mirante de Santana, apontam que, entre os meses do verão, houve um aumento neste século da incidência de dias com fortes chuvas e na frequência de eventos extremos de chuva na Região Metropolitana de São Paulo.
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“O número de dias secos consecutivos também aumentou gradualmente, sugerindo que os eventos de chuva intensa concentram-se em menos dias, com longos períodos mais secos entre eles. Com menos noites frias e mais dias quentes, aumentam as chances de ocorrência de chuvas convectivas, trazendo aumento da frequência e intensidade de chuvas extremas, que podem causar desastres naturais, inundações e deslizamentos de terra, afetando pessoas vulneráveis em regiões expostas”, escrevem os autores em artigo nos Anais da Academia de Ciências de Nova York.
Marengo afirma que as mudanças climáticas podem ter relação com esse aumento de frequência, mas também com o processo de urbanização. “É uma tendência que se observa em todo mundo de que os extremos de chuva estão aumentando. A chuva está caindo de forma mais violenta. Isso pode estar ligado ao clima, mas também pode ser atribuído à cidade. Em São Paulo, onde antes era a Mata Atlântica, hoje é uma cidade. O ambiente mudou. Isso cria um microclima que de certa forma ajuda a chuva a ficar mais violenta”, explica.
Ele pondera também que atribuir o problema somente às mudanças climáticas é esquecer que a forma como as cidades estão construídas, com córregos subdimensionados, vias impermeabilizadas e ocupações irregulares, trazem um ingrediente fundamental para o desastre. “O que ocorre não é só a chuva forte, mas uma combinação com populações morando em área de risco. As pessoas não morrem pela chuva, mas pela enxurrada, pelo deslizamento de terra, que são amplificados por essas condições”, diz.
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“Não é segredo que as chuvas estão aumentando, mas as cidades continuam não preparadas. Não é a primeira vez que acontece isso e não será a última. Pelo contrário, esse tipo de evento como o de hoje tende a ficar cada vez mais frequente.”
Os autores ressaltam que as mudanças climáticas vão ampliar os riscos sociais e ambientais existentes e criar novos riscos para as cidades. “Compreender e antecipar essas mudanças ajudará as cidades a se prepararem para um futuro mais sustentável. Isso significa tornar as cidades mais resistentes a desastres relacionados ao clima e gerenciar riscos climáticos de longo prazo de maneira a proteger as pessoas e incentivar a prosperidade”, escrevem.