Casa usada por quadrilha para cavar túnel vira 'atração turística'

Moradores e trabalhadores de Santo Amaro aproveitam tempo livre para tirar selfies e registrar vídeos em frente ao imóvel

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Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - Uma casa pintada de amarelo, com um portão de ferro recém-instalado na frente, chamava a atenção de todos que passavam em frente ao número 57 da Rua Antônio Buso, na região de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Usada por uma quadrilha para cavar um túnel de cerca de 600 metros até o cofre da Tesouraria Central do Banco do Brasil, a residência virou ponto turístico nesta terça-feira, 3, quando várias pessoas pararam para tirar selfies ou registrar vídeos do local. 

Santo Amaro.A residência foi alugada pela quadrilha por R$ 2 mil por mês, em contrato de locação assinado no dia 10 de junho Foto: Felipe Rau/Estadão

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Um dos curiosos era o analista de sistema Eduardo Landi, de 34 anos, que trabalha na Rua Alexandre Dumas, perto de lá, e aproveitou o horário do almoço para fazer um registro do lado de fora da casa. "Vim mais pela surpresa, parece coisa de filme. É inacreditável", disse.

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"Eu vi uma reportagem mostrando que uma quadrilha tentou invadir o cofre do Banco do Brasil e logo me lembrei dessa fortaleza aqui", afirmou Landi, apontado para o complexo do banco, a poucos metros de distância da casa alugada pelos bandidos. "Depois, eu percebi que era aqui."

Alvo dos criminosos, o cofre pode armazenar até R$ 5 bilhões e chegou a ficar com rachaduras por causa do túnel, segundo investigadores. A quadrilha planejava furtar mais de R$ 1 bilhão.

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Ao passar pelo local, o programador Bruno Lima, de 23 anos, também fez fotos. "Todo mundo no trabalho estava comentando desse túnel. Eu pensei: 'Não é possível que foi aqui'", disse, rindo.

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Segundo moradores da região, o imóvel já foi uma imobiliária e um salão de beleza, mas estava há cerca de três anos desocupado. Vazio, também abrigou moradores de rua que dormiam no terraço. A residência foi alugada pela quadrilha por R$ 2 mil por mês, em contrato de locação assinado no dia 10 de junho, de acordo com a Polícia Civil.

O bando usou documentos falsos de um mulher de Barueri, na Grande São Paulo, para fechar o negócio e chegou a atrasar o pagamento de um mês. Para receber o dinheiro, a proprietária do imóvel foi até o local, mas, aos investigadores, disse ter sido recebida por um casal (o homem tinha feições orientais). A polícia considera que ela é vítima - e não suspeita.

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Vizinhança

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Para impedir que a vizinhança percebesse a movimentação na residência, o bando instalou o portão de ferro e duas câmeras de segurança. Dentro do imóvel, havia armários para guardar roupas comuns, que eram trocadas por vestes especiais para a escavação, incluindo joelheiras. 

De acordo com a Polícia Civil, o terreno é argiloso e a escavação não fez barulho suficiente para ser notado pela vizinhança. No túnel, o bando usou equipamentos de iluminação, ventiladores, cilindros de oxigênio, além de itens de metalurgia. O investimento é estimado em R$ 4 milhões.

Antes de ser presa, a quadrilha já havia concluído a escavação do túnel (uma parte dele aproveitava as galerias pluviais da região) e estava finalizando a instalação de 1 mil metros de trilhos. Dez carrinhos seriam usados para transportar todo o dinheiro.

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"Virou um ponto turístico", disse o personal trainer Paulo Yoshida, de 26 anos, que também foi conferir a casa usada pelos bandidos. "Vi no noticiário e fui ver se era essa mesmo", riu Adriana Cabrera, de 45 anos, moradora da região. "Essa casa ficou muito tempo desocupada. Aí, quando aluga, dá um azar desse."

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