Mais de 7 mil pessoas lotaram o Espaço das Américas, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na noite de ontem, para presenciar o Tributo à Legião Urbana. O show foi promovido pela MTV. Com o ator Wagner Moura no lugar do cantor Renato Russo (1960-1996), e os integrantes originais Marcelo Bonfá (bateria) e Dado Villa-Lobos (guitarra), o tributo marcou os 30 anos do grupo brasiliense que foi (e ainda é) uma das maiores bandas do rock nacional de todos os tempos.
O grupo, com três músicos adicionais, começou o show em clima de histeria, com Tempo Perdido. Moura emendou Fábrica logo a seguir, e as vozes da plateia eram até mais fortes do que a sua. "Essa é talvez a noite mais emocionante da minha vida", disse. "Essa banda mudou a minha vida. Desde que a MTV me convidou, eu só pensava: vamos fazer dessa noite algo inesquecível. (Talvez seja) A última vez que a gente vai ver o Dado e o Bonfá juntos, tocando essas canções no palco", disse Moura, antes de convidar ao palco Fernando Catatau e continuar com Andrea Doria e Quase Sem Querer.
Wagner Moura ainda resolveu fazer o gênero "possuído", mas pouca gente prestava atenção à qualidade técnica de sua apresentação - a lenda da Legião fazia o serviço, e a força das canções se sobrepunha aos arranjos, como em qualquer barzinho com fãs tocados pela saudade, um violão e um amplificador.
Antes do show, do lado de fora da casa de espetáculos, não houve grandes atribulações, a não ser a gigantesca fila que os fãs enfrentaram para entrar no local, por volta das 20h30. O show teria como convidado o guitarrista britânico Andy Gill, do decano grupo punk Gang of Four, e foi entremeado com entrevistas e comentários de Thunderbird e Daniela Cicarelli.
Esperava-se que fãs mais exaltados fizessem algum protesto pela presença de Moura como "substituto" de Renato Russo, mas nada de mais grave aconteceu. Do lado de fora, a trupe do humorístico Pânico na TV, com comediantes vestidos como Renato Russo, Capitão Nascimento (personagem mais famoso de Moura) e um clone esfarrapado de Renato Rocha (ex-baixista da Legião que hoje vive como sem-teto no Rio) divertiam o pessoal na fila e os sem-ingresso que não conseguiram entrar.
"Minha mãe chorou quando o Renato Russo morreu, eu me lembro muito bem", disse o rapper Emicida, um dos convidados. "Eu ainda não vi nada do show, mas vi os ensaios na TV e achei muito bom. A Legião era muito forte."
Crítica familiar.
O show só não foi muito bem recebido pela família de Renato Russo, que achou o tributo um tanto elitista e fechado demais em sua proposta artística. Giuliano Manfredini, herdeiro do cantor, disse que preferia ver artistas da nova geração em cena, em vez de um ator.