''Vou matar vocês. Não adianta fugir''

Durante o ataque do atirador, professoras salvaram vidas ao trancar as portas das salas e pedir aos alunos que ficassem em silêncio

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Por Felipe Werneck , Alfredo Junqueira e Pedro Dantas
Atualização:

"Eu só escutava gritos. Ele gritava: "Eu vou matar, é melhor vocês não fugirem. Vou matar de qualquer jeito, não adianta correr"." O relato de Jade Ramos de Araújo, de 12 anos, só não traduz de forma mais fiel a tensão que viveu ontem do que a palma da mão que ela mostra, rabiscada.

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Trancada numa sala da Escola Municipal Tasso da Silveira para se proteger do assassino, ela usou uma caneta para dar vazão ao medo. "Para me acalmar, fiquei desenhando na minha mão", contou Jade. Ela só saiu da sala onde se refugiou após ser localizada pelo irmão mais velho. "Eu só escutava gritos", contou a aluna da 6.ª série. "Agradeço aos policiais que salvaram a minha vida (porque) ele ia encurralar todo mundo lá em cima. Ele gritava: "Vira para a parede que eu vou te matar". E atirava. Tive muito medo de ele me matar."

A dramaticidade do relato foi comum ontem a tantos outros depoimentos de sobreviventes e testemunhas. O carteiro Hercilei Antunes, de 44 anos, mora bem na frente da escola e ficou em pânico quando ouviu os primeiros tiros. Logo pensou na filha, de 15 anos, e no sobrinho, estudantes do colégio.

"Eu ouvi os tiros e corri em direção à escola. Mas, cada vez que eu ouvia um disparo, eu parava, pois não sabia de onde vinham as balas ou quem estava atirando. A polícia chegou rápido e, após a morte do assassino, corri até a sala da minha filha. Vi professores e alunos deitados no chão, apavorados. Só lembro de pegar os dois pelo braço e descer as escadas suando", contou.

Vizinha da escola, a dona de casa Lúcia Regina da Silva, de 40 anos, teve de esperar para ter certeza se o filho Marcus Vinícius, de 10, estava vivo. Ela elogiou a ação dos professores. "Vi meu filho só depois que tudo estava resolvido. Ele contou que as professoras trancaram a porta da sala e colocaram cadeiras para travar a maçaneta. Os alunos ficaram deitados no chão em silêncio, enquanto ouviam os disparos", relatou Lúcia.

Entre os estudantes, Larissa Gotardo, de 14 anos, não imaginava que a decisão de faltar à aula ontem seria boa. Aluna da 7.ª série, ela foi à escola assim que soube da tragédia. "Vim para saber dos meus amigos", disse. "A única coisa que eles contaram é que as professoras salvaram as vidas deles, pois trancaram as portas das salas até que o tiroteio terminasse." / COLABOROU ALEXANDRE RODRIGUES

DEPOIMENTOS

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G.L., de 12 anos, ESTUDANTE DA 6ª SÉRIE

''Nunca tinha visto isso. Só em filme''

"Eu estava no intervalo quando vi um homem bem vestido, com blusa social verde e calça preta, entrar na escola com uma mochila. Ninguém achou nada de especial, mas, em seguida, ouvimos gritos e um barulho. Achei que fosse estalinho, mas logo os professores vieram e pediram para que entrássemos numa sala de aula no 2.º andar. Ouvimos mais tiros e, em pouco tempo, ele entrou na nossa sala e disse que ia matar todo mundo. Começamos a gritar e ele atirou na cabeça da minha colega. Não olhei. Só vi quando ela saiu e foi levada para a ambulância. A turma tem 36 alunos, mas não sei quantos foram atingidos. Não quero mais estudar lá. Nunca tinha visto isso de perto. Só em filme." P.D.

M.M., de 13 anos, ESTUDANTE DA 8ª SÉRIE

''Eu vi ele atirar em sete pessoas na minha sala''

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CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

"Ele entrou na minha sala lá pelas 8h sem falar nada. Quando entrou com a arma, começou a gritaria e ele passou a atirar em todo mundo. De vez em quando, ele saía da sala para recarregar a arma. Quando ele parava de atirar, eu implorava para ele não me matar. Ele respondia o tempo todo: "pode relaxar, gordinho, eu não vou te matar". Ele matou muita gente na minha frente. Eu vi ele atirar em sete na sala. Ele dava tiro nos meus colegas, matava as garotas com tiro na cabeça. Ele atirava também nas pessoas que estavam no chão tentando se esconder. Eu fiquei sem pensar no que fazer. O policial disse que quem estava vivo deveria ir embora. Eu corri e deixei todas as coisas na sala." / BRUNO BOGHOSSIAN

Robson de Carvalho, PAI DE DOIS ESTUDANTES

''No colégio, havia sangue por todo lado''

Em altaSão Paulo
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"Eu estava em casa e minha filha de 15 anos ligou pelo celular para a mãe. Ela disse que tinha acabado de sair correndo da escola depois que um homem entrou e começou a matar todo mundo na sala ao lado. Tinha conseguido fugir. Nós saímos correndo para tentar achar ela e meu filho, de 11 anos, que ainda não tinha dado notícias. Conversei com minha filha no telefone e ela contou que todos os alunos ficaram abrigados numa sala da escola e ela acreditava que o meu filho ainda estava por lá. Chegando ao colégio, a cinco minutos de casa, vimos sangue por todo lado e crianças gritando. Meu filho estava bem, mas ficou muito traumatizado. Todas as crianças precisarão de ajuda psicológica." /B.B.

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