Viracopos convive há um ano com atraso nas obras

Terminal deveria ter ficado pronto antes da Copa, mas passageiros ainda dividem espaço com tapumes; concessionária foi autuada

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Por Monica Reolom
Atualização:

Corrigido às 16h20 (em itálico)

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Faz sete meses que os passageiros de voos internacionais do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, têm de conviver com tapumes, guindastes e furadeiras. O novo terminal do aeroporto, que deveria ter sido entregue um mês antes da Copa do Mundo no Brasil, completou nesta semana um ano de atrasos. A operação, em um terço do edifício, é parcial desde outubro de 2014. O novo prazo para conclusão é setembro deste ano.

Funcionários que trabalham na construção dizem duvidar, no entanto, desse prazo. "Setembro? Deste ano? Muito difícil", comenta um. "Isso aí vai ficar pronto só em 2020", diz outro. Segundo a concessionária Aeroportos Brasil, o terminal está com 95% das obras concluídas. Em maio do ano passado, estava com 92%.

Para o Mundial, o Píer A, exclusivamente internacional, foi inaugurado inacabado, para que o aeroporto pudesse receber jogadores de sete seleções, e, depois, só voltou a receber voos internacionais no dia 14 de outubro. Hoje, esse píer recebe 38 voos por semana, e ainda faltam o forro no teto para esconder a fiação, a substituição do piso, que é provisório, e a remoção das paredes de gesso que servem para esconder a obra dos outros dois píeres, o B (doméstico e internacional) e o C (doméstico), que permanecem fechados.

A concessionária foi autuada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) por causa do atraso, e a multa pode chegar a R$ 170 milhões, mais R$ 1,7 milhão por dia de atraso. A Anac informou que o valor ainda será definido.

Inacabado. Com decolagens e pousos concentrados à noite e na madrugada, o terminal fica vazio à tarde. No dia em que o Estado o visitou, havia mais operários circulando no terminal do que passageiros. "Estou detestando, não encontro ninguém para dar informações. Não tem o mínimo de estrutura ainda", disse a dona de casa Valéria Fonseca, de 51 anos.

A médica Dorothy Feres, de 62 anos, reclamou da falta de lojas e de tomadas, mas ressaltou que a construção "está ficando bonita". O seu marido, o médico Carlos Feres, de 67, disse acreditar que o prédio ficará "de primeiro mundo". "Mas ainda está bem cru", observou.

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Já a aposentada Leda Alves, de 63 anos, se disse contente com a possibilidade de viajar por Viracopos. "Está um pouco parado por aqui, mas eu não pretendo nunca mais ir até Guarulhos para pegar um voo", explicou ela, moradora de Campinas, que costuma viajar todo ano.

Imprevistos. Inicialmente orçado em R$ 2 bilhões, o valor da construção passou para R$ 3 bilhões por causa dos atrasos. A concessionária, que começou as obras em agosto de 2012, teve de lidar com acidentes de trabalho (com dois mortos), paralisações de funcionários e autuações do Ministério Público do Trabalho (MPT). Em novembro do ano passado, a Justiça do Trabalho condenou a Aeroportos Brasil a pagar R$ 800 mil por danos morais coletivos pela contratação ilegal de trabalhadores temporários

(o Estado havia informado erroneamente que o MPT denunciou a concessionária por trabalho escravo).

Por falta de dinheiro, as obras diminuíram de ritmo no fim do ano passado. Um dos acionistas da concessionária é a empreiteira UTC, cujo presidente, Ricardo Pessoa, está em prisão domiciliar por seu envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

A obra é executada pelas construtoras Constran, que pertence à UTC, e Triunfo. No fim de abril, o aeroporto conseguiu a aprovação de R$ 633,7 milhões em empréstimo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e agora faltam os trâmites burocráticos para a liberação do dinheiro.

Enquanto isso, as obras do novo terminal estão sendo tocadas por cerca de 500 operários - em 2014, 9 mil chegaram a trabalhar ali. A Aeroporto Brasil informou que, com o novo aporte do BNDES, quando liberado, "a obra terá, novamente, seu ritmo acelerado".

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