Violência é rotina para a maioria da população de rua

Estudo mostra que agressões variam de xingamentos a facadas

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Por Redação
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A violência é uma das principais marcas da vida na rua. Mais da metade dos sem-teto entrevistados para o estudo encomendado pela Prefeitura relatou ter sofrido alguma espécie de violência. Espancamento, facadas, tiros, abuso sexual, queimaduras, jatos de água, além de muitas agressões verbais e roubos fazem parte do cotidiano da população de rua da capital. "Já acordei com um velho jogando gasolina sobre mim e outros que estavam dormindo na rua", afirmou Tatiane Santana da Silva, de 30 anos, que perdeu a conta de quantas agressões sofreu nos quatro anos em que vive nas ruas. Entre os que moram em albergues, o índice de vítimas de violência é um pouco menor, de 38,5%. Nesse universo, 45,3% apanharam de outros moradores de rua e 29%, de policiais. A Guarda Civil Municipal, presente em muitos dos equipamentos públicos de atendimento à população de rua, também é frequentemente acusada de abuso de poder por quem vive nas ruas. Atualmente, a cidade tem 14.478 moradores de rua, segundo o Censo da População em Situação de Rua feito em dezembro. Desses, 7.713 (53%) estão em centros de acolhida da Prefeitura e os 6.765 (48%) restantes estão nas ruas. Na última pesquisa, em 2009, havia 13.666 pessoas nessa situação. Na época, 54% viviam na rua. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, há 10.115 vagas nos albergues da cidade. Por essa conta, sobram 2.402 camas nos centros de acolhida municipais. "A rua é um lugar muito ruim para morar, mesmo para aqueles que estão adaptados. E, mesmo assim, eles não querem ir para albergue. Vamos investigar qual é o motivo disso", afirmou o promotor da Divisão de Inclusão Social, Eduardo Pereira Valério. Vistoria. Segundo ele, o Ministério Público vai criar um grupo multidisciplinar para vistoriar todos os albergues da capital, com o objetivo de buscar os motivos de as vagas permanecerem ociosas. A vice-prefeita e ex-secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio (que foi exonerada a pedido ontem e deve concorrer a uma vaga nas eleições municipais), afirmou que quem fica nas ruas o faz por problemas psicossociais. Pela pesquisa, a nota média dos centros de acolhida mesmo entre os que preferem dormir na rua é de 6,1. Entre os que usam o serviço, é de 8,3. A principal aposta da Prefeitura para atrair os moradores de rua para os centros de acolhida são as tendas. Nesses locais, a população de rua pode tomar banho e encontrar atividades de lazer e educativas. Representante do Movimento Estadual da População em Situação de Rua, Robson Mendonça critica o modelo. "A atual gestão está preocupada em fazer centro de formação de vagabundo, que são as tendas, onde a população vai para ler jornal, passear e fica estagnada." Para ele, deveria haver mais portas de saída para os moradores de rua, com encaminhamento para emprego e moradia. Causas. A demissão do trabalho é o segundo motivo de moradores de rua terem saído de suas casas, com 16% das respostas. No entanto, a maioria (42%) afirma que mora na rua porque brigou com parentes. Quase metade dos moradores de rua (47,4%) vem de outros Estados - principalmente Bahia, Pernambuco e Minas Gerais. Mais da metade dos recenseados (55,3%) vive na região central. A segunda região com mais moradores de rua é a zona leste (22,35%). O censo registrou 221 adolescentes e 212 crianças em situação de rua e em albergues. / ARTUR RODRIGUES

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