Vila Maria: a veneza paulistana

Houve um tempo em que os moradores precisavam ter um barco "na garagem", porque o bairro sempre alagava

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Por Redação
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Reduto janista, cidadezinha de interior, Veneza paulistana. Todos esses jeitos de se referir ao bairro e ao distrito da Vila Maria estão, a rigor, corretos. É verdade, por exemplo, que o bairro ficou famoso como reduto janista nos anos de 1950 e que, no começo do século XX, quase todo mundo tinha um barco em casa, porque a região vivia alagando. Veja a seguir algumas curiosidades.

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  1.Veneza paulistana Historiadores ressaltam a importância de se distinguir as duas margens do Tietê no início do século XX, quando o desenho do rio era outro (ainda não havia sido “corrigido”) e tantos bairros surgiam na cidade: do lado esquerdo, as terras eram planas e alagadas por vários quilômetros e as pessoas instalavam-se bem afastadas dali, nos pontos mais altos. Do lado direito, o espaço de planície alagada era mais estreito e não demorava a encontrar os primeiros sinais da Serra da Cantareira. Era nas colinas que nasciam os povoados. Foi diferente com a Vila Maria. Roberto Pompeu de Toledo escreve, em A Capital da Vertigem, que o bairro tem origem no “irresponsável loteamento de um sítio em plena várzea. A venda de terrenos iria causar aos compradores, oriundos das camadas mais pobres da população, anos de sofrimento”. De fato, como a região sempre alagava, era comum os moradores terem um barco em casa para se descolar nos alagamentos.

Neste filme sobre a história da Vila Maria (e da Guilherme), o morador Roberto Carvalho Motta, advogado e especialista na memória do bairro, conta que a maior enchente que ocorreu ali foi em 1929. As águas teriam chegado bem perto da Candelária e, em alguns pontos, as cheias atingiram os dois metros de altura.  

2. Reduto janista Em 1955, o então prefeito Jânio Quadros foi eleito governador com o apoio do bairro. Não por acaso, um ano antes ele havia promovido várias benfeitorias na região – asfaltou ruas, abriu bibliotecas e escolas e deu início à construção da nova encarnação, em concreto, da ponte da Vila Maria, inaugurada em 1956. Conta-se que o bairro era dividido entre partidários de Adhemar de Barros, ex-prefeito da capital e ex-governador de São Paulo, e Jânio. Os dois teriam investido bastante por ali a fim de ganhar votos. Não se sabe, porém se Adhemar de Barros tinha um boteco favorito... O do Jânio era o Bar do Seu Pirilo, que não existe mais.

Em 1955, o então prefeito Jânio Quadros foi eleito governador com o apoio do bairro Foto: Reprodução

  3.Uma padaria bem antigaNa Praça Cosmorama, desde 1947, funciona a Padaria Nova Santo Antonio, fundada por um português e sua mulher, uma brasileira. “Foi o primeiro lugar a ter uma televisão preto e branco aqui na Vila Maria, então era quase que um cinema na praça em cima dos caixotes. O pessoa vinha da Vila Maria inteira aqui pra praça para assistir televisão naquela época”, conta a filha dos fundadores, a comerciante Fatima Aparecida, no filme sobre a história da Vila Maria.

      4.Recortes de antigamenteNas memórias mais saudosistas de alguns moradores, costumam ser lembrados diversos pontos que já foram referência no bairro, como a Casa de Dom Pedro (casarão colonial da Rua Araritaguaba, em que o imperador se encontrava, dizem, com a Marquesa de Santos); a biquinha; o Zoológico do Agenor (uma chácara particular na rua Nazaré da Mata, que foi aberta ao público e depois virou estacionamento); o "Velho Vila" (cinema e teatro) e os bares do Almeida e do Pirilo (esse último, que Jânio Quadros frequentava). 

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