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Viciados em crack fazem 'procissão' perto de palcos

Por Jotabê Medeiros e Pedro Antunes
Atualização:

A Virada Cultural de São Paulo lotou ontem pela oitavo ano o centro da cidade. O Minhocão, onde pela primeira vez chefs de cozinha ofereciam pratos gourmet, tinha filas enormes por volta da 0 hora de hoje. Apesar do policiamento ostensivo, aquela que aparentava no início da noite ser a edição mais tranquila teve uma confusão. Aparentava.No Palco Boulevard São João, uma briga assustou por volta das 23 horas o público que assistia à apresentação de Diogo Poças e Luciana Alves no quarto show de homenagem à Elis Regina. A dupla cantava a música Brigas Nunca Mais quando cerca de cem adolescentes deram início a uma briga generalizada. Diogo mandou parar a música. "A gente cantando Brigas Nunca Mais e vocês fazem uma coisa dessas?" A música é do álbum Tom e Elis (1964). Segundo os bombeiros, ninguém ficou ferido. A Polícia Militar também não conseguiu deter os suspeitos nem soube a causa da confusão.Mais cedo, o Teatro Municipal foi reaberto, com tranquilidade, para a Virada após dois anos de reformas. A estrela da noite foi o ex-mutante Arnaldo Baptista, que tocou piano para um Municipal cheio. "Fiquei um pouco bobo no começo, o teatro é imenso, parece aqueles palácios do tempo de Luís XIV", disse o cantor, que terminou o show aplaudido de pé pelo público. Arnaldo tocou canções suas, como Loki e Balada do Louco, e de Bob Dylan (Blowin' in the Wind) e Elton John (Rocket Man), além de standards como Cry Me a River. "Essa música 9 por 8 do Dave Brubeck é difícil. É difííícil", brincou, e o público gargalhou com ele. Quando tocou Lemon Tree/Meu Limoeiro, explicou, candidamente: "É folclore".O cantor Dalto, de jaqueta de couro, chapéu coco e óculos escuros, fazia a festa dos saudosos das baladas de rádio dos anos 80, como Muito Estranho e Fera Ferida. No Palco Arouche, o rock progressivo de solos intermináveis do grupo setentista brasileiro A Bolha fez grande sucesso.Viciados em crack bloquearam várias ruas do perímetro da Virada Cultural. As conhecidas procissões do crack, com usuários sendo seguidos por policiais, passavam perto dos palcos. Na Rua Barão de Limeira, público e viciados se misturavam na apresentação do grupo A Bolha, por volta de 21 horas.A presença dos usuários de crack espantou o público. Palcos na antiga cracolândia, como nas Ruas Dino Bueno e Barão de Piracicaba, estavam esvaziados. Na Rua Guaianases, DJs tocavam para uma pista sem público.A autônoma Marli Freitas, de 37 anos, que mora no centro, reclamou dos viciados. "Num evento como esse, não pega bem ter essa movimentação", disse. O professor Wilhelme Hoh, de 29 anos, teve outra opinião: "Para mim está tranquilo, acho importante que haja eventos com essa convivência para revitalizar o centro". / ARTUR RODRIGUES

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