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Viaduto na Saúde vira pequena cracolândia

Moradores dizem que área tinha moradores de rua, mas agora há 'noias novos' no local

Por Juliana Deodoro
Atualização:

A região ao redor do Viaduto Jabaquara, na Saúde, zona sul de São Paulo, já está sendo considerada por vizinhos uma minicracolândia. O local, que sempre abrigou moradores de rua, viu o número de usuários de drogas aumentar nos últimos meses, em especial depois da Operação Centro Legal, realizada pela PM em janeiro deste ano.Na segunda-feira passada, o Estado constatou a presença de pelo menos 25 pessoas, que se concentravam sob o viaduto e circulavam pelas áreas verdes do entorno da Avenida dos Bandeirantes, como as Praças Masaharu Taniguchi e Whitaker Penteado. Em pequenos grupos de duas ou três pessoas, os usuários passam o dia dando voltas na região, atravessam as ruas e avenidas correndo e no meio dos carros, e abordam pedestres e motoristas para pedir dinheiro.O comerciante José Carlos de Oliveira, de 35 anos, trabalha na região há duas décadas e diz que costumava conhecer a maioria dos moradores de rua. "Depois da operação na cracolândia, a situação aqui aumentou. Só tem 'noia' novo." Ele conta que já viu mães e familiares dos usuários tentando tirá-los dali. "Uma senhora deu dinheiro para a filha adolescente comprar crack achando que a convenceria a voltar para casa. Não funcionou."Dispersão. O antropólogo e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Rubens Adorno, afirma que a dispersão dos usuários da Luz para outras regiões da cidade era esperada. A lógica da movimentação, segundo ele, é a de sobrevivência e segue o mercado de drogas. "Eles querem ser vistos e ocupam espaços onde há abrigo e que tenham equipamentos urbanos."Adorno orienta pesquisas sobre a cracolândia há mais de dez anos e afirma que tem observado um retrocesso na atitude dos próprios usuários. "A dispersão coloca-os em uma nova situação e provoca outro tipo de interação com a sociedade, às vezes mais violenta." Para o professor, a "sustentabilidade" que existia na cracolândia - tanto no sistema de trocas quanto na pacificação - foi minada. Um dos reflexos dessa nova interação é, segundo Adorno, a volta do "achaque", termo usado pelos usuários para a tática de, dependendo da situação, apelar para a violência ou para a caridade das pessoas. "A cracolândia acabou com o achaque, que era mais identificado no início dos anos 2000, quando eles assumiam forma agressiva pelas outras pessoas. Algumas dessas atitudes estão voltando."A costureira Maria Ferreira, de 62 anos, tenta conviver com os usuários que agora se concentram na esquina da sua casa. "O ditado diz: se você não pode com eles, junte-se a eles. Não nego prato de comida a ninguém e respondo quando me dão boa noite. Só rezo todos os dias para não ser assaltada."Diariamente, Maria vai até a estação de metrô a pé para buscar a filha que volta da faculdade. Outro filho dela já foi assaltado por um dos usuários, mas correu atrás do menino e conseguiu recuperar o celular. "Eu, você, não podemos fazer nada. A Prefeitura os tira de um lugar e eles se espalham."Novas operações. Há cerca de um mês, a secretária estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa Arruda, revelou que a Operação Cracolândia será estendida para os arredores da Baixada do Glicério, região central, e para a Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul, identificadas pela secretaria como locais de concentração de usuários. Questionada sobre o Viaduto Jabaquara, a secretaria não disse se o local terá ações do governo. Em nota, a Prefeitura afirmou que "pontos onde possa existir a concentração de usuários e de traficantes serão contemplados com ações específicas, nos momentos oportunos, para combater essa 'chaga social'".Reunião. Dependentes químicos também estão em praças perto do Viaduto Jabaquara

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