'Vi um monte de fumaça subindo e destroços caindo'

Oito imóveis na rua paralela ao prédio que desabou, em Guarulhos, tiveram de ser interditados

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Por Fabio Leite
Atualização:

O motoboy Anderson Roberto de Almeida, de 31 anos, estava assistindo televisão no seu apartamento, no primeiro andar do prédio vizinho ao desabamento, quando ouviu o estrondo ao lado. "Abri a porta e olhei para fora (no corredor lateral que dá acesso aos apartamentos e está a um muro do prédio caído) para ver o que era e vi um monte de fumaça subindo e destroços caindo. Fechei a porta na hora e corri para dentro da minha casa", conta o motoboy, que mora com a mulher.

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Quase quatro horas depois do desabamento de um prédio em construção nesta segunda-feira, 2, às 23 horas, Almeida estava na Avenida Presidente Humberto Castelo Branco, onde ocorreu o acidente, na Vila Augusta, em Guarulhos. Ele havia sido retirado do apartamento pela Defesa Civil e ainda esperava que os agentes fizessem uma vistoria para determinar se era seguro voltar. No entanto, ainda não havia previsão de quando o trabalho começaria - e menos ainda se o casal poderia voltar. A orientação era que, se o imóvel não fosse liberado, os moradores teriam de arranjar outro lugar para dormir.

Almeida, porém, não tem parentes em Guarulhos. "Ainda não sei o que vou fazer se a Defesa Civil não deixar a gente voltar para o apartamento, mas estou confiante de que vão me deixar dormir em casa", disse nessa segunda-feira, pouco depois das 23h.

Desabamento. O prédio desabou às 19h20 na Avenida Presidente Castelo Branco. Um operário continua desaparecido e as buscas nos escombros prosseguem. Oito imóveis na rua paralela tiveram de ser interditados.

As primeiras informações recebidas pelos bombeiros davam conta de até 17 pessoas soterradas. Posteriormente, descobriu-se que só oito pessoas estavam na obra ontem. Seis tinham ido embora e o sétimo tinha saído para comprar pão na hora que o prédio caiu.

"Estava vendo TV com a minha mãe e brincando com a minha filha, quando ouvimos um grande barulho que parecia a explosão de um botijão de gás. Havia muita fumaça, então saímos correndo", relatou a dona de casa Flavia Romero, de 23 anos. A avenida ficou bloqueada com a queda dos escombros e o entorno ficou sem energia.

Segundo vizinhos, a obra começou há oito meses e estava para entrar na fase de acabamentos. No local seria construído um condomínio de 3.706 metros quadrados com oito pavimentos (térreo, cinco andares e dois subsolos), 30 apartamentos e dois salões comerciais, totalizando 3.706 metros quadrados. Unidades já haviam sido vendidas por R$ 200 mil.

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A obra era da Salema Comércio, Construção e Projetos e o responsável é Fernando Madeira Salema. Seu advogado esteve no local, mas não falou com a imprensa. A prefeitura de Guarulhos informou que o alvará de construção foi emitido em 23 de novembro de 2012. Em maio, a empresa pediu para acrescentar um mezanino ao projeto, solicitação aceita pela prefeitura no mês passado. "A responsabilidade sobre a execução da obra, de modo a garantir todas as medidas de segurança estrutural e de bem-estar dos funcionários, cabe à empreiteira", afirma a prefeitura, em nota.

Um ex-funcionário da obra que não quis se identificar disse que, nos 30 dias em que trabalhou no local, não viu nenhuma visita de engenheiro. "As vigas estavam todas com rachadura. Vi aquilo e disse: 'aqui não fico'. Então, pedi demissão."

Resgate. O trabalhador que estaria sob os escombros já foi identificado, mas o nome não foi divulgado. A família foi notificada e confirmou que ele não voltou para casa. Setenta e três bombeiros retiravam manualmente os escombros de uma área onde um dos cinco cães farejadores detectou sinais de uma vítima viva.

O capitão dos bombeiros Carlos Roberto Rodrigues diz que a forma como ocorreu o desabamento dá esperanças de encontrar o operário com vida. A queda foi em camadas - os andares superiores ruíram e foram derrubando os de baixo. "Existe a possibilidade de haver espaços vitais isolados, com ar."

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