'Vi meu filho jogado no chão': Pai de criança morta em brinquedo fala em negligência de parque

Criança de dez anos foi arrastada em brinquedo; família reclama da falta de equipe de primeiros socorros

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

O tradicional samba da rua Juventino Miguel, no Sacomã, zona sul de São Paulo, teve vários momentos de silêncio neste domingo, 31. Eram as homenagens a Murillo Ferreira dos Santos, de 10 anos, morto em um brinquedo de parque de diversões no dia anterior. O silêncio também continha revolta e indignação. Pais acusam os administradores de negligência - segundo eles, não havia monitor no local na hora do acidente – e também não haviam socorristas para o atendimento de emergência.

Criança gostava de soltar pipa, bicicletas e motos Foto: Marcelo Faria / Arquivo Pessoal

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"O moleque se machucou no brinquedo. Colocaram ele em outro canto e deixaram lá. Só ligaram para o resgate e não fizeram mais nada. Não tinha ninguém para fazer os primeiros socorros. Se tivesse alguém capacitado, ele poderia estar vivo. Jogos de futebol e shows têm ambulância. Por que o parque não tem?", questionou o pai, Walter Ferreira, ao Estadão. "Vi meu filho jogado no chão e ninguém fez nada", completou o vendedor autônomo de 45 anos.

Familiares e testemunhas contam que eram pelo menos oito crianças no brinquedo. O brinquedo tinha parado, mas voltou a funcionar. Uma das crianças correu e conseguiu se sentar; outras saíram. Murillo não conseguiu escapar, ficou preso pela blusa e acabou arrastado pelo brinquedo chamado Skiiing Dance. Ele foi atingido várias vezes na cabeça e nas costas. 

Outros visitantes começaram a gritar, pedindo socorro, mas, segundo eles, não havia nenhum monitor do parque por perto, de acordo com os familiares. "Para mim, foi negligência e omissão de socorro", critica a mãe, a promotora de vendas Amanda Santos. "Ainda não acredito no que aconteceu. Se eu estivesse lá, teria tido um enfarto", lamenta.

Nesta segunda-feira, os familiares foram ao enterro, no Cemitério da Vila Alpina, na zona leste, com uma camiseta com a foto de Murillo com a inscrição "Eterno pilotinho". Na imagem, ele estava onde mais gostava: numa motocicleta. "Ele andava comigo de segunda a segunda", diz o amigo Marcelo Faria. No enterro, o amigo colocou a chave da moto que ele tanto pedia dentro do caixão. Murillo era o filho do meio, irmão de Alice, de 7, Gustavo e Ycaro, ambos de 17. 

Quando não estava na garupa da motocicleta, estava andando de bicicleta pelas ruas do Jardim Vergueiro, bairro da zona sul. Vivia uma infância raiz, típica da periferia em que as ruas do bairro são como o quintal de casa. Soltava pipa, jogava futebol descalço. Uma das lembranças que os vizinhos relataram era o lanche, o hamburgão, basicamente pão com cheddar que ele adorava repetir. 

A escola onde fazia o 5º ano do ensino fundamental, a EMEF Hercília de Campos Costa, suspendeu as aulas. Um cartaz com a frase "Luto Murillo" dava a dimensão da dor do bairro.

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O parque de diversões estava fechado nesta segunda-feira, mas era possível circular pelas atrações na Avenida Padre Arlindo Vieira, no Jardim Vergueiro, sem impedimento. O brinquedo onde Murillo morreu atraía a atenção de vizinhos e curiosos. Não havia qualquer sinalização. Os administradores não foram encontrados pela reportagem do Estadão. Funcionários que mexiam no emprego diziam que só haviam chegado nesta segunda e não sabiam de nada nem da tragédia da véspera. 

Parque tem licença para operar, diz Prefeitura 

Conforme a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), os policiais civis atenderam a ocorrência por volta das 23h do sábado. No endereço indicado, foram informados que a vítima estava no brinquedo do parque quando acabou pulando da cadeira enquanto o equipamento ainda estava realizando a parada.

Imediatamente, a criança foi encaminhada ao Hospital Saboya, no Jabaquara, na mesma região, mas não resistiu. O caso foi registrado como morte suspeita e queda acidental pelo 26º Distrito Policial (Sacomã), que requisitou perícia.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Ipiranga, afirma que o local onde ocorreu o acidente se trata de uma área particular que possui o auto de licença provisória para funcionamento

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