Vereadores alertam que Doria terá de negociar com a Câmara

Se quiser aprovar projetos, tucano precisará ‘fazer política’ e explicar de forma detalhada seus planos para obter apoio

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Por Adriana Ferraz
Atualização:
Plenário. Oposição já fala em 'barrar a venda da cidade' Foto: MARCIO FERNANDES/ESTADAO

SÃO PAULO - O prefeito eleito de São Paulo vai ter de deixar o gestor de lado e fazer política se quiser ver seu pacote de privatizações aprovado na Câmara Municipal. João Doria (PSDB) vai depender dos votos dos vereadores para tirar do papel três de suas principais propostas: a venda dos complexos de Interlagos e do Anhembi, a concessão do Estádio do Pacaembu e a entrega dos parques municipais à iniciativa privada. Cada medida exigirá uma lei específica.

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Com 3 milhões de votos e 25 parlamentares eleitos em sua coligação, ele deve contar com uma ampla base de apoio na Casa a partir de 2017. “Mas vai precisar explicar de forma detalhada como pretende tocar esses projetos. Se for para entregar os parques a uma empresa privada, que cobrará ingresso dos frequentadores, sou contra, é claro”, diz Gilberto Natalini (PV).

Prestes a voltar para a oposição, a bancada do PT já se articula para barrar a “venda da cidade”. Alfredinho afirma que o partido vai oferecer uma oposição dura ao novo governo. “Não vai ser fácil como ele pensa. Quero ver como o gestor vai se sair nesta. Como vai agradar os partidos de sua base sem lotear o governo?” 

Segundo estimativa apresentada pelo futuro prefeito, apenas a privatização dos complexos do Anhembi e de Interlagos pode render cerca de R$ 7 bilhões aos cofres municipais. Doria tem afirmado que esse recurso será empregado prioritariamente nas áreas de saúde e educação, condição que pode ser exigida pelos parlamentares durante o trâmite do projeto.

Atual presidente da Casa, Antonio Donato (PT) explica que o processo será semelhante ao de propostas encaminhadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) e aprovadas em plenário, como as leis que autorizaram a Prefeitura a vender um terreno público na zona norte ao Hospital São Camilo ou o Estádio do Canindé, construído em área municipal. “Projetos desse tipo exigem maioria simples, ou seja, 28 votos em plenário. Mas demandam tempo, debates. Não são aprovados da noite para o dia”, afirmou. 

Segundo o petista, modelos de concessão a serem propostos por Doria também exigirão autorização da Casa, assim como a liberação de publicidade em ciclovias ou faixas de ônibus. “Neste caso, vai ter de mudar ainda a Lei Cidade Limpa.” Hoje, a publicidade externa só é liberada em pontos de ônibus e relógios de rua.

Apoio. Vereador mais votado do PTB, com 67 mil votos, Adilson Amadeu apoiou a candidatura de Celso Russomanno (PRB), mas seu partido deve compor a base de sustentação de Doria, assim como o PR, o PSD e o PRB. Na quarta-feira, 5, no plenário da Câmara, Amadeu disse que se “o tucano fizer 20% do que está falando, São Paulo vai virar Nova York, mas antes vai precisar do Parlamento”. 

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“O Executivo sabe disso. E não é porque vamos negociar cargos no governo, não, mas porque estudamos tudo o que acontece na cidade nas mais variadas comissões, como de transporte e saúde. Então, tudo o que ele está falando depende da conversa com a Câmara.”

Na terça, Doria disse ao Estado que não haverá falta de diálogo com a Câmara. “Vamos ter ótima relação.” Os primeiros contatos já foram feitos ao longo da semana em reuniões, ligações e mensagens.