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Vereador ''arma barraco'' em feira

Comitiva queria entrar em espaço lacrado, mas Prefeitura não autorizou; indignados, parlamentares xingaram guardas enquanto camelôs apoiavam

Por Diego Zanchetta
Atualização:

Uma confusão entre vereadores e guardas-civis que fazem a segurança da Feira da Madrugada paralisou ontem a votação de projetos com novas regras urbanas para São Paulo e criou uma animosidade inédita entre a presidência da Câmara e a gestão do prefeito Gilberto Kassab (sem partido).Por volta das 11h30, seis parlamentares, entre eles o presidente da Casa, José Police Neto (sem partido), e o líder de governo, Roberto Trípoli (PV), foram barrados por guardas-civis ao tentar entrar no espaço interditado há cinco dias pela Prefeitura no Brás, região central. Os vereadores se indignaram e por pouco não houve um confronto. Sob gritos de apoio de cerca de 200 ambulantes, o vereador Adilson Amadeu (PTB) chegou a furar o bloqueio e escalou o muro de ferro de 3 metros de altura. Os guardas ficaram cercados pelos ambulantes ao mesmo tempo em que eram xingados pelos parlamentares. No meio do tumulto, os camelôs pediam para o vereador Aurélio Miguel (PR) furar o bloqueio. "Dá um golpe neles Aurélio, você é campeão olímpico, tira a arma deles", gritava um dos camelôs para o ex-judoca, medalha de ouro na Olimpíada de Seul em 1988.A confusão já era generalizada quando Police Neto, Trípoli e o líder do PSDB, Floriano Pesaro, chegaram à porta da feirinha. Mas de nada adiantou a presença dos governistas. Por celular, o secretário municipal de Segurança, Edson Ortega, avisou que não tinha como fazer a liberação, já que precisava das autorizações de outros órgãos que também interditaram a Feira da Madrugada - o Ministério Público Federal e a Polícia Federal.A negativa do secretário indignou Police Neto e Trípoli. Mais tarde, o presidente da Câmara, aliado do prefeito Kassab, disse no plenário que "o Parlamento foi desrespeitado hoje (ontem). Tudo isso criou uma tensão muito grande na Casa."O episódio só não teve desfecho pior porque Ortega apareceu na entrada da feira depois de mais de uma hora e liberou os vereadores para uma visita monitorada. "Só tinha produto pirata, uma vergonha. A Prefeitura assumiu o espaço em novembro e só agora percebeu o contrabando que ocorria lá dentro", criticou Aurélio Miguel. Ele disse que a entrada dos vereadores no espaço está prevista na Lei Orgânica do Município, que prevê o acesso de vereadores a documentos e informações do Executivo."O vereador é o fiscal do povo. Eles estavam lá para ver as mercadorias que estão apreendidas desde sexta-feira e que não tivemos acesso", disse Leandro Dantas, presidente do Sindicato dos Camelôs Independentes da Feira da Madrugada.Para deixar claro a Kassab que estavam indignados, os vereadores suspenderam as duas sessões extraordinárias previstas e convocaram Ortega às pressas. Com a presença de cerca de 50 ambulantes no corredor por onde passou antes de chegar à sala de depoimentos, o secretário foi xingado por Antonio Carlos Rodrigues (PR) logo ao sentar na cadeira. "Aqui você só vai escutar, espera para falar e fica bem quietinho", bradou o vereador, com o dedo em riste.Ortega voltou a explicar que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal também precisariam ser avisados que os vereadores entrariam no espaço.Impasse. O embate suspendeu o acordo entre lideranças para votar projetos em segunda discussão. Entre as propostas estavam a proibição de som alto em carros parados em lojas e um novo programa de emplacamento de imóveis.Outro projeto que poderia ser votado obriga que as novas bancas de jornais mantenham um jardim no entorno, dos vereadores Police Neto e Rodrigues. A nova votação deve ser só na terça-feira. "O governo não tem respeito nem pelo seu líder de governo", atacou José Américo (PT), que também foi à feirinha.

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