Vazão de rios de SP está abaixo de 30%

Estiagem transformou Tietê, Piracicaba, Grande, Mogi-Guaçu e Paraíba do Sul, os cinco principais do Estado, em caminhos de pedra e areia

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Por José Maria Tomazela
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SOROCABA - A pior seca em mais de um século transforma os grandes rios paulistas em caminhos de pedra e areia. Cinco dos principais rios que cortam ou banham o Estado de São Paulo estão com menos de 30% da água que deveriam ter nesta época do ano, de acordo com dados dos comitês de bacias hidrográficas e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). São eles os Rios Tietê, Grande, Piracicaba, Mogi-Guaçu e Paraíba do Sul. Outros grandes mananciais, como os Rios Paraná e Paranapanema, também sofrem com a longa falta de chuvas. De acordo com o Instituto Agronômico, em Campinas (IAC), o período hidrológico de outubro de 2013 a março deste ano foi o mais seco em 123 anos. O Rio Tietê, um dos mais importantes do Estado, já pode ser atravessado a pé na região de Itu. O manancial se resume a pequenos fios de água escorrendo entre rochas escurecidas pela poluição. Em Salto, na mesma região, as águas desapareceram. O rio corta o Estado de leste a oeste e deságua no Paraná. Perto da foz, em Araçatuba, o nível baixou 8 metros, interrompendo o tráfego de barcaças na Hidrovia Tietê-Paraná. A navegação está parada há dois meses e o prejuízo é de R$ 200 milhões, segundo o Departamento Hidroviário do Estado. Em Anhembi, no Médio Tietê, o nível do lago formado pela Barragem de Barra Bonita baixou 3 metros e as prainhas viraram pasto. Com a concentração de poluentes, mantos de plantas aquáticas cobrem parte do que restou do rio. A maioria dos barcos da colônia de pescadores está parada. O Rio Grande, na divisa de São Paulo com Minas, tem o nível mais baixo da história. Da ponte da Rodovia Percy Waldir Semeghini, que liga a paulista Ouroeste à mineira Água Vermelha, é possível ver o grande tablado de pedra à mostra com o recuo das águas. Pescadores e areeiros montaram barracas no local antes coberto pelo rio. Moradores falam em uma redução de até 8 metros no nível. A Hidrelétrica de Água Vermelha estava com 16% da capacidade, na sexta-feira, segundo o ONS. Na outra barragem do Rio Grande na região, a de Marimbondo, o nível também estava baixo: 16,4%. A água dos dois lagos recuou tanto que as plataformas usadas pelos barcos ficaram distantes 500 metros. Troncos e rochas encobertos há décadas estão à mostra. As represas do Rio Paraíba do Sul, que abastece o leste paulista e a população do Rio, estão com o nível mais baixo da história. Na de Paraibuna, com 17,4% da capacidade, surgiram ilhas. Uma ponte que estava debaixo d'água há 40 anos voltou a ser vista. Com pouca água no Sistema Cantareira, o governo paulista quer captar a água do Paraíba para a Grande São Paulo - proposta ainda em discussão. Só pedras. Cartão-postal da cidade que leva seu nome, o salto no Rio Piracicaba virou um amontoado de pedras. Já é possível atravessar o rio à pé. Os pequenos canais formados pelo que restou das águas podem ser transpostos sem dificuldade. Perto da Rua do Porto surgiu um banco de areia. Abaixo da cachoeira, a profundidade do rio, que é de 3 metros, está em 60 centímetros. A vazão, de 14 mil litros por segundo, é menos de um quarto do normal - 65 mil l/s - e a mais baixa desde 1964, quando começou a medição. O aposentado Izaías dos Reis, de 69 anos, caminha pelo leito seco e mostra o local em que costumava pescar. "Dali saíam barcos com turistas para passeios", diz, apontando o banco de areia. Ele mostra carcaças de cascudos nas pedras e alguns mandis boiando, mortos. "Essa seca acabou com os peixes." Para o almoxarife Thiago da Silveira, de 36 anos, a natureza está cobrando o preço do descaso do homem. "Veja, só tem lixo. É incrível o que conseguiram fazer com esse rio." Mortandade. Outro importante rio, o Mogi-Guaçu, teve a vida aquática afetada pela estiagem. Durante a piracema, o nível estava tão baixo que não houve migração. Turistas que acompanham a subida dos peixes na Cachoeira das Emas, em Pirassununga, se frustraram. Segundo o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta), apenas 20% dos peixes desovaram. Formado pelos Rios Grande e Parnaíba, o Paraná é o segundo maior rio da América do Sul e também sofre com a estiagem. A redução no volume de água trouxe à tona as ruínas da antiga cidade de Rubineia, inundada em 1973, após a construção da Hidrelétrica de Ilha Solteira. Restos de construções que ficaram no leito do lago reapareceram, atraindo a curiosidade dos moradores da nova cidade, construída a 3 km dali. No Rio Paranapanema, na divisa com o Paraná, o lago da Hidrelétrica de Capivara, em Iepê, baixou tanto que sítios arqueológicos ressurgiram. Na região de Avaré, a Represa de Jurumirim está com 38% da capacidade e bancos de areia dificultam a navegação. Os sistemas de captação para abastecimento e irrigação foram desligados em Itaí e Taquarituba.

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