Vale do Ribeira armazena o equivalente a duas Cantareiras

Conjunto de 8 represas tem capacidade de vazão de até 60 mil litros de água por segundo; uso para abastecimento é previsto em plano

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Por José Maria Tomazela
Atualização:
Menos afetado. Rio Ribeira de Iguape também é conhecido como Vale das Águas pela profusão de recursos hídricos Foto: Mauricio de Carvalho/ISA

SOROCABA - O Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, tem reservatórios equivalentes a dois Sistemas Cantareira, cheios de água límpida e, até agora, intocados. O conjunto de oito represas, seis delas no Rio Juquiá, fornece energia elétrica à Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa do Grupo Votorantim. Juntos, os lagos somam 8,9 quilômetros de lâmina d'água, quatro vezes a extensão das represas do Cantareira. Os mananciais suportam uma captação de 60 mil litros por segundo.

Outras duas barragens estão nos rios do Peixe e Açungui, todos tributários do Rio Ribeira de Iguape, o principal do Vale do Ribeira, também conhecido como Vale das Águas pela profusão de recursos hídricos.

A região, com a maior extensão de Mata Atlântica preservada do Estado, foi a menos afetada pela estiagem que atingiu São Paulo neste ano. O uso dessas águas para suprir a demanda da região metropolitana está no Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, do governo estadual, que prevê alternativas para o abastecimento urbano até 2035.

A concessão de uso das barragens feita pelo governo federal à CBA vence em 2016. De acordo com o secretário executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Ney Ikeda, a renovação terá de ser negociada tendo como foco o uso múltiplo das águas. "Como prevê a legislação, a prioridade deverá ser o abastecimento público", disse.

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A primeira obra de transposição da água do Vale do Ribeira para a Grande São Paulo deve ficar pronta em 2017. O Sistema Produtor São Lourenço, resultado de uma parceria público-privada entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Consórcio São Lourenço, prevê a captação de 4,7 mil litros por segundo na Represa Cachoeira do França, no Rio Juquiá, no limite entre Ibiúna e Juquitiba. A água será transportada por 83 km de adutoras até uma estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, para ser distribuída.

O estudo, concluído em 2013, antes da estiagem que afetou o Estado, estima que a demanda de água na Grande São Paulo em 2035 chegará a 283 mil litros por segundo - 60 mil litros a mais do que a disponibilidade atual em períodos normais. Segundo o plano, o Vale do Ribeira é a área mais próxima com água disponível. Em 1996, o decreto que estabeleceu a concessão das barragens do Rio Juquiá ao Grupo Votorantim já previa a "derivação das águas, com reversão de até 4,7 mil litros por segundo, para abastecimento público da Grande São Paulo".

Alternativa.

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Na Bacia do Juquiá também está previsto um esquema de obras no seu baixo curso, perto da confluência com o Ribeira de Iguape, visando ao aproveitamento múltiplo de abastecimento de água e geração de energia. O sistema permitiria bombear até 80 litros por segundo para a Represa de Itupararanga, na Bacia do Sorocaba-Médio Tietê, para complementar o abastecimento das regiões de Campinas, Sorocaba e Grande São Paulo.

Para Ikeda, o uso de um volume maior de água do Rio Juquiá requer novos estudos. "Participei das discussões do Plano da Macrometrópole e ficou claro que as propostas precisam ser aprofundadas." Na opinião do técnico, o Vale do Ribeira tem abundância de água com qualidade porque as condições físico-geográficas do ambiente que abriga os recursos hídricos foram preservadas, mesmo que em prejuízo do desenvolvimento econômico. "Hoje a água é um dos nossos bens mais preciosos e precisa ser valorizada."

Represas.

As represas construídas pelo Grupo Votorantim tinham como finalidade a geração de energia. As barragens foram erguidas entre as décadas de 1950 e 1980. O aproveitamento da água para o abastecimento passou a ser cogitado nos anos 1980. O grande entrave, além da questão ambiental, já que as águas estão cercadas pela Mata Atlântica, está no desnível entre o planalto paulista, onde se encontra a Grande São Paulo, e o Vale do Ribeira. A capital está a uma altitude de 760 metros do nível do mar, enquanto Juquiá está a 17 metros.

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