
16 de abril de 2011 | 00h00
O Banco Central negocia todos os dias no mercado financeiro a compra ou venda de títulos públicos com vencimento futuro ou contratos a termo de compra ou venda de dólares. Durante a crise, o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) e o Banco Central Europeu compraram títulos privados (hipotecas, debêntures, bônus, etc), também com vencimento futuro.
Portanto, desse ponto de vista, é normal que uma prefeitura queira receber à vista (queira descontar) um conjunto de créditos a receber (recebíveis). E é relativamente fácil calcular o valor presente de um ativo que só vai ser pago lá na frente. A Prefeitura tem mil motivos para usar já esses recursos no interesse do munícipe em vez de ficar esperando anos para gastá-los.
O que pode ser discutido é outra coisa: é se está correto uma autoridade receber no presente um valor que deve ser entrar no caixa das administrações seguintes. Dependendo do caso, poderia caracterizar jogada destinada a enfraquecer um governo futuro.
No entanto, algo parecido já ocorre no presente, sem contestação. Qualquer autoridade pode contratar prestação de serviços e execução de projetos de obras públicas que podem levar anos e anos de construção. Essa conta é repassada às administrações seguintes. Pode acontecer com a construção do metrô, de hidrelétrica, de aeroporto ou no pagamento de conta de precatórios.
Leis regem uso do dinheiro público e tribunais de contas definem os procedimentos em cada caso. Mas, em última análise, autorização para que uma Prefeitura negocie ou não recebíveis não é questão técnica. É puramente política.
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