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Um tour pela maior feira de arte da cidade

Até domingo, SP Arte reúne galeristas, artistas, celebridades e curiosos na Bienal

Por Paulo Sampaio
Atualização:

Procura eclética. Medalhões até escolhem compradores - e não escondem que preferem museus e 'colecionadores sérios'

 

  A primeira pergunta que o visitante leigo se faz em uma feira de arte que tem a participação das maiores galerias do Brasil e a frequência de um suposto público AAA é: "Como se dá a troca de interesses entre galeristas, artistas, milionários, decoradores e celebridades?"

Na SP Arte (Feira Internacional de Arte de São Paulo), que vai até domingo na Bienal do Ibirapuera, é até divertido lançar um tema e ouvir as reações.

Por exemplo: verdade que, para preservar o valor da obra, o galerista chega a escolher seu comprador, sabe em que parede pretende pendurar e como vai cuidar?

Ou então: uma celebridade sem gosto e um especulador que vai vender a obra na primeira esquina ou repassá-la em um leilão podem ser rejeitados?

"Só vendo pra quem eu quero", diz a galerista Luiza Strina, de São Paulo, que representa Cildo Meirelles. "Olha para o meu estande (alguns amigos aparecem de repente e supostamente brigam para comprar uma obra de um artista jovem por US$ 5 mil). Para eles eu vendo", diz ela.

Sílvia Cintra, que responde no Rio por Daniel Senise e outros artistas plásticos, vai além: "A gente aqui faz uma espécie de entrevista com o comprador, para saber de quem se trata." Ela conta que, para não deixar o valor da obra cair, o ideal é obter uma "demanda reprimida": "Digo sempre ao artista que não é para produzir loucamente. Nada de virar arroz de festa", afirma.

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Verdade? "Eu duvido. Você acha que, se o cara aparece com dinheiro, elas não vendem?", pergunta Raquel Arnaud, que tem em seu estande obras de Waltércio Caldas, Carlos Cruz-Diez e Piza, uma deste último à venda por 65 mil.

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Segundo Raquel, Luiza Strina vende "até pedra, objeto decorativo como arte". "Há galerias e galerias. Aqui no meu estande você não vai ver obras que se choquem." O artista plástico Florian Reiss, que frequenta esse universo há 30 anos, garante que essa glamourização do mercado não corresponde ao mundo real. "O dia a dia de uma galeria não é tranquilo assim. Um ou outro artista pode escolher quem vai comprar a obra dele ou que destino ela vai ter. Mas é uma minoria restritíssima do mercado."

O bom comprador. Por sua vez, a decoradora e arquiteta Camila Vieira Santos, que caminha pela feira "atrás de obras para clientes", garante que o bom comprador tem o dinheiro e quer ter a obra, mas não necessariamente conhece artes plásticas.

"Sabe aquele cara que antes colecionava Ferrari e agora está numa fase de obra de arte? Tem muitos. Só não gosto quando eles cismam com um artista e querem comprar logo três quadros do mesmo."

Camila diz que não consegue levar nada que não a apaixone: "Compro um quadro como se fosse um sofá maravilhoso. Mas peço o nome do artista, o currículo, para levar para o cliente. Faço tudo direitinho", diz.

Mais alguns metros e lá está o estande da Galeria Fortes Vilaça, outra glamourosa presença na feira.

A propósito, os estandes das galerias mais respeitadas estão muito próximos. Coincidência? Como é feito o mapeamento?

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"Lá fora cobram 5% a 8% a mais por um estande bem localizado. Nós não cobramos nada", diz a diretora da feira, Fernanda Feitosa. Foi coincidência então.

Quadro e sofá. Alguém vem informar a Márcia Fortes que uma venda foi cancelada porque o quadro "não coube no sofá" - era muito pequeno para ficar acima dele. A galerista ri e informa a um auxiliar que a obra está livre para um interessado eventual. "Não tenho nada contra vender para gente que vai combinar o quadro com o sofá. Se a pessoa for simpática - e eu estiver com tempo -, oriento numa boa."

Mas ela tem um ranking de clientes ideais. São mais ou menos os mesmos dos outros medalhões. Os preferidos: primeiro, museus - que vão imortalizar obra e artista e torná-los parte da história; depois, colecionadores "sólidos" - que garantam boa visibilidade; e a celebridade que não tem conhecimento de arte. "Se o cara é jogador de futebol e resolveu gastar R$ 100 milhões em arte, em vez de comprar outro helicóptero, qual o problema? Vou até ser formadora de consciência cultural. Pensou nisso?" Por último, abaixo de todos, até mesmo do emergente, está o especulador.

Sem saldão. E como é que se dão as compras na feira? Cash? Cheque? Tem xepa no último dia? "Não, não, nada de saldão. O pagamento pode ser feito depois", garante Fernanda Feitosa. "Esse é um mercado baseado na confiança."

Público-alvo

LUISA STRINA GALERISTA

"Só vendo para quem quero. Meu papel é colocar as obras nos melhores museus, onde há muita visibilidade. Para eles, dou desconto maior, de até 25%. Para colecionador, 15%. Não vendo para quem não conhece arte ou quem quer comprar pura e simplesmente para fazer investimento e revender. Pode olhar para o meu estande: só tem quem sabe do que se trata"

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CAMILA VIEIRA SANTOS

ARQUITETA E DECORADORA

"Entro nas melhores galerias e ninguém nunca me perguntou o nome do meu cliente. Tem um pessoal que acha bacana dizer que tem arte. Qual o problema? Em geral, é o pessoal do mercado financeiro"

FLORIAN REISS

ARTISTA PLÁSTICO

"Quem passa por aqui acha que esse ambiente é a coisa mais glamourosa do mundo, que está todo mundo nadando em dinheiro. Isso absolutamente não reflete a realidade. Cada venda é uma conquistazinha para o galerista. De um modo geral, a não ser no caso de grandes estrelas, que são a minoria, garanto que ninguém

vai deixar de vender"

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Serviço

SP ARTE (FEIRA INTERNACIONAL DE ARTE DE SÃO PAULO), ATÉ DOMINGO, NO PRÉDIO DA BIENAL, PARQUE DO IBIRAPUERA. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: HOJE, DAS 14H ÀS 22H; NO

FINAL DE SEMANA, DAS 12H ÀS 21H. INGRESSO: R$ 25 E R$ 12 (MEIA ENTRADA PARA ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS).

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