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Um dia na difícil rotina de um jóquei

Dieta espartana, treino puxado e risco de vida durante as corridas são parte do dia a dia dos profissionais do Hipódromo. Mas vencer um páreo compensa tudo

Por Cida Alves
Atualização:

São 6 horas da manhã de uma segunda-feira e José Aparecido da Silva, de 34 anos, chega ao Jockey Club de São Paulo com dois objetivos: perder 2 de seus 55 quilos até o fim da tarde e ganhar o terceiro páreo da noite. Quando chegou de Mato Grosso do Sul, aos 16 anos, para entrar na escola de jóqueis do hipódromo de Cidade Jardim, o peso não era problema para ele. "Eu media 1,45m e pesava 41 quilos. Parecia um ratinho."Em apenas dois meses, ele ganhou as 70 corridas que precisava para se tornar profissional. Depois disso, sempre se manteve entre os cinco melhores do Jockey. Os treinos da primeira hora do dia, que começam às 6h30, são diários e é também onde os jóqueis aproveitam para conseguir corridas com treinadores e donos de cavalos. Para cada páreo que disputa, o jóquei ganha R$ 25. Se ficar entre os cinco primeiros, leva 10% do valor do prêmio correspondente à colocação. Os treinadores do cavalo ganham 12%.Cada animal tem um limite de peso que pode carregar na corrida, por isso é muito importante para Aparecido manter-se abaixo dos 55 quilos. "Quanto mais pesado, menos corridas vou conseguir", explica. Uma vida quase pior que a de modelo. Já são quase 11 da manhã e Aparecido tomou apenas uma xícara de café. O almoço será, no máximo, uma maçã. Até a hora da corrida não tomará água - para matar a sede, chupa gelo. E a Expedição Metrópole acompanhou a verdadeira saga que é a rotina de Aparecido - e vários outros - no Jockey. De manhã, aprendizes, jóqueis profissionais e galopadores - funcionários que exercitam os cavalos - correm pelas três raias do hipódromo. Cada animal treina cerca de cinco minutos por dia. Após o treino, Aparecido vai para casa ficar com os dois filhos e a mulher, que foi a primeira joqueta do Jockey Club. Por volta das 13 horas, o jóquei volta ao hipódromo para cumprir sua primeira meta: suar até perder os 2 quilos para que possa montar. O ritual cansa só de assistir. Vestindo roupa preta de manga comprida e gola alta e com o corpo coberto por um plástico, Aparecido corre 6 quilômetros debaixo de um sol de 32 graus. Quando termina, ensopado dos pés à cabeça, vai se pesar. Ainda faltam 300 gramas, que ele perderá na sauna. O peso do jóquei é conferido antes e depois da prova. O controle constante na balança é uma das piores coisas na sua profissão, na opinião de Aparecido. Os riscos de correr a cavalo também impressionam até um atleta experiente como ele. Afinal, são animais de quase 500 quilos que podem cair em cima de alguém que pesa 10 vezes menos. A situação de maior perigo que enfrentou aconteceu há quase um mês. Em uma corrida, o cavalo que ele montava teve uma parada cardíaca. Ele caiu e vários jóqueis que vinham atrás também, mas ninguém se feriu com gravidade. "Esse é o único esporte em que a ambulância vem atrás dos atletas durante o percurso." O que compensa tudo isso é, simplesmente, vencer.O público. Senhores, algumas poucas senhoras, jovens casais e grupos de amigos chegam por volta das 18h ao Jockey Club para assistir aos páreos de segunda-feira, que acontecem à noite. Frequentador desde os 9 anos, Carlos Teich, de 68, chega com as corridas e as estratégias na cabeça. No bolso, leva os R$ 1.200 que ganhou no dia anterior. "Mas, ganhando ou perdendo, só aposto R$ 200." Enquanto isso, Aparecido está na sala onde espera o único páreo que correrá naquela noite. Soa a campainha, os jóqueis passam diante de um altar com imagens de santos, fazem uma breve oração e seguem para a pista. Aparecido larga com o número 7, montando a égua La Vita Mia. Na metade da reta final, dispara e vence a corrida com folga. E embolsa 10% do prêmio de R$ 6.270.Na arquibancada, Carlos ri após perder os R$ 20 que havia apostado em outro cavalo. "Mas nunca fico dois páreos sem ganhar." E a repórter amarga não ter visto em toda aquela preparação de Aparecido a oportunidade de estrear no Jockey Club apostando em um vencedor.

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