
03 de fevereiro de 2011 | 00h00
Nesta grande liturgia fashion, os modelos saem de um confessionário no qual batinas, túnicas e casulas ganham tecidos nobres e bordados incríveis, incorporando elementos da camisaria e da alfaiataria. Lãs cinza-mescla permeiam a coleção, dando suporte para a tricoline branca e o veludo vermelho.
Entre pregas religiosas e calças-bloomer, a silhueta é trapézio, mas o cíngulo amarrado na cintura alta a transforma em império. Os bordados no veludo são dignos de um papa, e tudo emana austeridade e modernidade na mesma medida. Dá vontade de ser homem para usar João Pimenta. Bênção, João!
Alexandre Herchcovitch também é autor de imagens fortes em seu desfile masculino. Nesta temporada, ele procura refletir sobre grandes desastres e seu impacto na natureza. O laminado térmico remete ao aquecimento global, o náilon alaranjado fala de energia solar e o capuz com pano e óculos escuros tapando a cara dos meninos parece um statement que alerta para o risco de o homem ter de viver cada vez mais protegido de seu próprio hábitat. Aqui também tudo é muito austero, numa marcha gótica com pinceladas de Durer.
Já Gloria Coelho talvez seja a estilista mais pop-chic made in Brazil. Os monstrinhos de Pokémon são sua inspiração para um inverno feminino, sustentado sobre calças em forma de nova bootleg e casacos impecáveis, com recortes precisos que valorizam a silhueta.
Gloria pensa tudo em 3-D e com movimento. Suas roupas têm cristas e carapaças de organza, que vêm acopladas ou como acessórios multifuncionais, como uma roda mágica. As cores primorosas trazem combinações inovadoras e entram até na meia-calça que compõe com o detalhe da botinha Pokémon. Suas construções são absolutamente arquitetônicas e vale a pena observá-las de perto. Sorte nossa, já que hoje ela abre a exposição Linha do Tempo no Museu da Casa Brasileira em SP, apresentando 60 looks criados desde o início da SPFW, em 1996.
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