Turismo de aventura cai 50% em rios do interior

Em Socorro, a seca do Rio do Peixe forçou a interrupção do rafting; esperança é de que chuvas recuperem fluxo de turistas até março

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - A estiagem deste ano fez cair em até 50% o número de pessoas que procuram o turismo de aventura em rios e lagos do interior paulista. Passeios de barco e atividades esportivas, como canoagem e rafting, chegaram a ser suspensos por falta de água. A alta temporada, iniciada em setembro, é a mais fraca dos últimos dez anos. A expectativa é de que a volta das chuvas recupere o fluxo de turistas até o fim do verão, em março.

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No município de Socorro, os visitantes começaram a diminuir depois que as águas do Rio do Peixe praticamente sumiram entre as pedras. “Não havia como descer com os barcos sem encalhar e tivemos de interromper a atividade”, explicou Charles Gonçalves, sócio da agência Próximaventura Canoar. No rafting, os botes são impulsionados com os remos para deslisar pelas corredeiras com extensão de 7 km. Em geral, a descida ocorre com o nível do rio entre 1,40 m e 1,80 m, mas a estiagem baixou para 50 centímetros. Sem água, as embarcações enroscam nas pedras. 

Segundo Gonçalves, o rio já estava abaixo do normal em abril. O trecho operável foi reduzido de 7 km para 4 km, mas a situação se agravou. 

“Como a procura pelas atividades aquáticas é grande, tivemos de abrir o jogo com os clientes e o movimento caiu mais de 50% em relação ao normal.” As chuvas dos últimos dias não foram suficientes para recuperar o manancial, mas já deram um ânimo, de acordo com Gonçalves. “É preciso que chova muito mais para que o nível das águas se estabilize e os passeios sejam retomados com segurança.”

A Canoar, agência de turismo de aventura, suspendeu o rafting no trecho de 5,5 km do Alto Rio Juquiá, em Juquitiba. Segundo a agente Karla Gonçalves, o rio ficou com tão pouca água que o fundo dos barcos raspava nas pedras. A atividade só não foi interrompida em trecho de 7,5 km no Baixo Juquiá, onde o rio é mais caudaloso. Ela diz que uma represa que formava um remanso no fim do percurso virou um fio de água. 

Em Iporanga, no Vale do Ribeira, a prática do boia cross no Rio Betary, integrante do Parque Estadual Turístico do Alto-Ribeira (Petar), também está restrita. As visitas às cavernas da região estão substituindo as atividade aquáticas. No Parque Carlos Botelho, o boia cross no Rio Taquaral foi mantido, apesar do nível baixo. “Estamos no limite, mas rodando, pois nosso foco não é a aventura e, sim, a contemplação da natureza”, disse Aelson Apolinário, da Muriqui Ecoturismo. 

Barragem. Em Cássia dos Coqueiros, o Rio Cubatão fornece água para a cidade e alimenta corredeiras e cachoeiras. O nível já estava baixo há 30 dias, quando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo decidiu fazer barragem para aumentar a captação. “O rio baixou mais e as cachoeiras quase secaram. Donos de pousadas relataram que o turismo despencou”, disse o assessor jurídico da prefeitura, Osmar Eugênio de Souza Júnior. 

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Os rios da cidade atraem cerca de 500 visitantes por semana, a maioria em busca de banhos, passeios em boias ou apenas para observar as cachoeiras. Com o desaparecimento da água, os turistas minguaram, segundo Souza Júnior. A cachoeira mais visitada, a Roccaporena, estava com um quinto do volume normal. “Houve comprometimento em um trecho de pelo menos 14 km do rio onde estão concentradas as principais atrações”, afirmou o assessor. 

Brotas, considerada a capital do turismo de aventura do Estado, agências e operadoras tentam minimizar os efeitos da seca, mas a prefeitura admite queda no número de visitantes. Práticas que dependem de água foram substituídas por arvorismo e tirolesa. O Rio Jacaré-Pepira, um dos mais disputados para rafting, teve o nível reduzido, mas não foi preciso interromper as atividades, segundo o departamento de turismo. 

Com as chuvas dos últimos dias, a procura pelo rafting aumentou, segundo a equipe da agência Território Selvagem. Na quinta-feira, o nível do rio havia subido 30 cm e os barcos voltaram para as águas.

Em Juquitiba. Rafting só não foi interrompido no Baixo Juquiá, onde o rio é mais caudaloso Foto: José Maria Tomazela/Estadão

Hotéis perdem clientes e dispensam funcionários. Em Avaré, a queda no nível da Represa de Jurumirim afetou "de forma substancial" a atividades turística, segundo o secretário de Turismo, Fernando Alonso. Quatro grandes hotéis que têm marinas registraram desistências de reservas em razão do recuo das águas. 

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"Com a baixa, além de bancos de areia, emergiram restos de árvores que estavam submersos, dificultando a navegação." Ele contou que um hotel investiu na compra de um grande catamarã, mas ainda não conseguiu colocar o barco no lago.

Na semana passada, o nível da represa estava em apenas 18% da capacidade, segundo medição da empresa Duke Energy, que opera a hidrelétrica. A falta de água fez desaparecer a prainha do Camping Municipal, que atraía milhares de turistas. "A água se distanciou da faixa de areia e está no meio do lodo", relatou o secretário. A situação só não é pior, segundo ele, porque o reservatório é muito grande - quatro vezes maior que a Baía de Guanabara. "Nossa esperança é que chova para recuperar o lago, mas é preciso de muita chuva mesmo."

Na Represa de Itupararanga, que se estende entre Votorantim e Ibiúna, a situação é semelhante. Com o recuo das águas, as rampas de acesso às marinas se tornaram inoperantes e o aluguel de barcos despencou. De acordo com Paulo Santos, dono de uma escola náutica, pedras enormes que estavam 3 metros abaixo da superfície da água agora afloraram e exigem muito cuidado dos barqueiros. No dia 2, um barco virou depois de colidir com uma rocha, mas os três ocupantes se salvaram.

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Em Joanópolis, a Represa Jaguari-Jacareí, que faz parte do Sistema Cantareira, praticamente secou e os hotéis e pousadas localizados à beira d'água acumulam prejuízos. O hoteleiro Paulo Bonandi, dono da Pousada Monteleone, havia investido em uma bem aparelhada marina e, de uma hora para outra, viu toda a água ir embora. 

"Estava com 38 lanchas na marina e não restou uma", disse. Os passeios de barco, maior diferencial da pousada, tiveram de ser suspensos. O restaurante, construído para atender a náutica, ficou vazio e ele dispensou 22 dos 35 funcionários. "Depois de 20 anos tomando conta da pousada, estou tirando umas férias forçadas." Ele acredita que a recuperação da represa só ocorrerá em 2016. "Ainda assim se chover muito." 

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