Tudo se repete, 22 anos depois

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

No carnaval de 1988, Sandra Maria Vieira da Silva desfilou vestida de baiana pela Escola de Samba Vizinha Faladeira. A alegria da festa durou pouco. Na sexta-feira seguinte, 19 de fevereiro, enquanto a Unidos de Vila Isabel ainda comemorava o título conquistado na antevéspera, um dilúvio atingiu o Rio.Moradora da Providência, na região central, a casa de Sandra rolou morro abaixo. Ela havia acabado de sair para ir ao mercado com os quatro filhos. "As coisas, quando têm de acontecer, não têm aviso. Um dia eu estava desfilando, no outro vivia uma tragédia", conta, aos 59 anos.Anos antes, em 1968, uma pedra se desprendeu do alto do morro e destruiu 58 barracos. Sandra tinha 17 anos e perdeu muitos vizinhos. "Vinte anos depois, tudo se repetia. Mas agora era comigo, com a minha família", lembra. Ela contou com a solidariedade dos vizinhos - ganhou roupas, cobertores, colchonetes. Abrigou-se na casa de colegas da Rede Ferroviária Federal, onde trabalhava no setor de limpeza. Os filhos ficaram sem estudar naquele ano - o único registro das crianças pequenas são dois quadros, que conseguiu salvar dos escombros.Barraco. Todo o dinheiro que tinha serviu para comprar um barraco no alto do morro, que pagou por mais três anos. "Mas a casa era tão ruim que eu tive de construir outra", diz. Seus chefes doaram parte do material de construção.No fim da obra, outra tragédia: o filho caçula, de 3 anos, caiu na cisterna e morreu afogado. "Eu estava trabalhando. A tampa era frágil e quebrou. As irmãs acharam o corpinho dele lá dentro. Só então comprei uma tampa de concreto", conta.A casa de Sandra hoje está cheia de rachaduras e infiltrações. A janela soltou-se da parede e caiu. Ela fechou o buraco com tábuas. "Queria que o governo me tirasse daqui. Nem durmo com medo (de) que a laje caia na minha cabeça."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.