Tropa de Choque retira estudantes que ocupavam reitoria da Unesp

Grupo de cerca de 120 pessoas estava no prédio desde a tarde desta terça, 16, e afirma que ocupação foi pacífica

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Por Luciano Bottini Filho
Atualização:

Atualizado às 16h48

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SÃO PAULO - Tomada por cerca de 120 estudantes desde a tarde de terça-feira, 16, a Reitoria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no centro de São Paulo, foi desocupada por meio de uma reintegração de posse no início da manhã desta quarta, 17.  A unidade fica na Rua Quirino de Andrade, República.

Os estudantes ocuparam o primeiro, o segundo e o 13º andar da reitoria. Nas dependências e nos elevadores foram encontradas pichações e depredação. Uma perícia está sendo feita para avaliar os danos causados. Alguns manifestantes deixaram pertences no local, que foram devolvidos na tarde desta quarta após a perícia.  O prédio voltou a funcionar já no começo da manhã.

A ação da Tropa de Choque da PM começou por volta das 5h, foi pacífica e durou cerca de uma hora, segundo a corporação. Os alunos foram encaminhados ao 2º. DP (Bom Retiro), onde foram ouvidos e liberados. O caso será transferido para o 3º DP (Campos Elíseos).

Segundo o coronel Reynaldo Simões Rossi, 118 estudantes foram conduzidos à delegacia do Bom Retiro em três micro-ônibus e uma van. Parte deles foi ouvida e liberada e outra parte apenas identificada. Foi registrado um boletim de ocorrência por dano ao patrimônio, resistência a autoridade e esbulho (invasão de propriedade com uso de violência).

Imagens do circuito interno da reitoria serão averiguadas para atribuição de eventuais responsabilidades individuais aos envolvidos. Os estudantes estão sendo defendidos por um advogado da central sindical Conlutas. De acordo com a PM, algumas câmeras da parte interna foram desligadas ou viradas para a parede.

Essa é a segunda ocupação à reitoria da Unesp em um mês. Em 27 de junho, a entidade já havia entrado em negociação com os manifestantes, depois de uma manifestação no edifício. De acordo com nota enviada pela assessoria da universidade, os estudantes que invadiram a reitoria nesta terça tiveram "atitudes de intimidação em relação a funcionário da administração" e alguns deles "estavam mascarados".

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"Após intenso diálogo e processo de negociação do gabinete da Reitoria com os alunos, infelizmente infrutífero, na manhã do dia 17 de julho, foram tomadas, em nome da preservação do patrimônio público, as medidas judiciais cabíveis objetivando a reintegração de posse, tendo sido deferida medida liminar pelo Juiz de Direito da 10ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinando a pronta desocupação do imóvel", afirmou a reitoria em nota. 

Os estudantes, por sua vez, publicaram um comunicado na noite de terça negando estarem agindo com violência.  "Já faz três meses que fortalecemos a greve geral da Unesp contra as políticas que precarizam ainda mais nossa universidade. No último final de semana, estivemos em plenária estadual e deliberamos a ocupação da reitoria frente à intransigência e à enrolação do reitor", diz  o texto.

Os universitários afirmam que ocuparam o prédio pacificamente, permitindo que os funcionários deixassem o local de maneira "tranquila e segura". "Eles alegam que estamos mantendo alguns funcionários e a vice-reitora nas dependências do prédio em cárcere privado, o que é mentira", afirma a nota.

Desocupação. Universitários se queixaram de uma postura "truculenta" e "intimidadora" dos policiais e dois estudantes que estavam do lado de fora do prédio alegam terem sido agredidos. Eles afirmam também que o mandado autorizando a operação não foi mostrado na hora e que a tropa quebrou vidros e portas na entrada quando avançou.

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"A gente sabia que a tropa ia chegar. Aí a gente armou a barricada", disse a anula do cursinho da Unesp, Isabela Dutra, de 20 anos. Quando eles viriam os soldados se aproximando o grupo se trancou em uma sala no segundo andar.Houve alvoroço e gritos, mas de acordo com os manifestante eles concordaram em não resistir. Segundo a estudante, um PM que estava no comando da operação na linha de frente disse: "Ou vocês saem em fila andando, ou a gente vai ter que tirá-los na porrada. Acho que não é isso que vocês querem".

O coronel Rossi afirmou em entrevista coletiva que a PM tentou negociar, mas, com a resistência dos estudantes, foi necessário transpor à força barricadas montadas por eles com móveis e o próprio corpo. Rossi negou que pudessem ter havido excessos e classificou a operação como um "sucesso". Não há registro de feridos.

"Não acredito que isso (ameaça) tenha acontecido e se eventualmente aconteceu, a gente apura as conduta disciplinares", disse o comandante da operação. "Uma intervenção como essa é um momento tenso. Nós não queríamos construtir mártires e gostaríamos que a solução tivesse sido uma solução negociada". Segundo o coronel, a polícia estava autorizada a abrir caminho de maneira forçada e a resposta do tropa foi resultado da falta de consenso dos manifestantes. "Isso faz parte do uso progessivo da força".

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Felipe Luiz, de 26 anos, do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unesp, conta que estava do lado de fora do edifício com uma garrafa de conhaque quando ele e um amigo foram abordados pela PM. Os policiais teriam analisado o líquido e dito que se tratava de gasolina. Depois de eles serem liberados, de acordo com Luiz, um dos soldados jogou a garrafa nos seus pés e gritou "molotov".  Em seguida, eles foram detidos e mandados para o 2º DP em um camburão. "Nós fomos os primeiros a ser presos. Colocaram na viatura, deram cavalinho de pau, foram xingando", disse o universitário. "Eu posso andar com líquido inflamável, conhaque. A gente só ia ficar do lado de fora".

 

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