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Três meses após decisão, Esporte Clube Pinheiros reverte tombamento de salão

Conselho municipal havia decidido pela preservação do imóvel em março, mas voltou atrás após contestação do clube; decisão dividiu representantes do Conpresp

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Por Priscila Mengue
Atualização:

SÃO PAULO - O Esporte Clube Pinheiros conseguiu reverter o recente tombamento do salão de festas da instituição, de autoria do arquiteto modernista Gregori Warchavchik. A decisão de destombar não foi unânime dentro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), tendo dois votos contrários e uma abstenção (de um total de nove conselheiros) em reunião realizada no dia 4 de junho - apenas três meses após ter decidido tombar o imóvel.

Adecisão dividiu o Conpresp e, ainda, voltou a ser discutida em outra reunião após uma das conselheiras pedir para registrar manifestações contrárias ao destombamento em ata. O salão fica localizado na sede do clube, com a entrada voltada para a Avenida Faria Lima, em Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo. O projeto do espaço é de Gregori Warchavchik, arquiteto da Casa Modernista e de outros oito imóveis tombados em nível municipal na capital paulista. 

Esporte Clube Pinheiros conseguiu reverter a decisão do Conpresp de tombar o salão de festas, localizado na Avenida Faria Lima Foto: Reprodução/Google Street View

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Segundo os advogados do clube, o imóvel estava descaracterizado desde os anos 60, quando teve parte da estrutura demolida durante a desapropriação da Avenida Faria Lima. A manutenção do tombamento foi defendida pelo setor técnico do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão municipal que faz os estudos dos imóveis em processo de tombamento. A opinião não foi, contudo, acompanhada pela diretora do DPH, Mariana Rolim. 

“A questão que impõe é sobre a representatividade do salão de festas do Clube para o patrimônio cultural, arquitetônico e urbanístico. E aqui fica claro que tais valores, que poderiam ser um marco referencial, arquitetônico e urbanístico, na paisagem da região, foi perdido quando da alteração do projeto”, disse o relator do processo Ricardo Ferrari, representante da Secretaria Municipal da Justiça, conforme consta na ata da decisão. 

“Em seu projeto original o edifício estabelecia um diálogo consigo mesmo e com a cidade, através não somente da estrutura de acesso, mas também da área verde existente ali, que criva um espaço de acolhimento. Tal relação com a cidade foi perdida, fazendo o clube voltar-se para as áreas internas, no que eram os fundos do salão”, completa Ferrari.

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Um dos votos contrários ao destombamento foi da arquiteta Marianna Al Assal, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e relatora do processo de tombamento do salão. Segundo consta em ata, ela ressaltou a “pertinência e relevância” do imóvel “como patrimônio não apenas para a comunidade ao qual pertence, mas também para a cidade de São Paulo”.

“Pode-se dizer que o edifício, projetado pelo renomado arquiteto Gregori Warchavchik, mantém inquestionavelmente sua importância histórica e contemporânea nas práticas cotidianas da comunidade do clube, presente nas memórias de seus sócios”, disse a conselheira. “O edifício ainda mantém forte relação com o tecido urbano circundante operando, por sua monumentalidade, como referência na paisagem e, do ponto de vista da memória, como referencial de espaços de sociabilidade da cidade”, completou.

Além de Marianna, o conselheiro Marcelo Manhães (representante da Ordem dos Advogados do Brasil) também foi contrário ao destombamento, enquanto o representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) preferiu se abster. 

Histórico. O processo foi à votação no Conpresp em 12 de março de 2018, quando teve  cinco votos favoráveis ao tombamento e quatro contrários (Câmara Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal da Justiça, Secretaria Municipal da Cultura e DPH).

Na data, advogados do clube já tinham sinalizado que iriam recorrer da decisão, enquanto a conselheira relatora havia ressaltado que o plano diretor do clube prevê a demolição do espaço para a construção de uma arena.

“O salão de festas projetado para o Clube Pinheiros em finais da década de 1950 insere-se inquestionavelmente em um contexto social de uma sociabilidade moderna que se inicia com as comemorações do quarto centenário da cidade e do qual fazem parte os diversos clubes de feições modernas já tombados ou em estudo de tombamento”, disse Marianna.

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