'Travei uma luta durante dois anos para decidir'

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Por Redação
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"Exerci o ministério sacerdotal por dez anos, de 1966 a 1976. Minhas principais atribuições eram animar o trabalho socioeducativo da Arquidiocese de Natal e, aos domingos, integrar a equipe de irmãs que assumiam, como vigárias, a paróquia de Nísia Floresta. Era uma iniciativa pioneira de valorização da mulher como integrante do clero.Durante dois anos, travei uma intensa luta para decidir entre permanecer padre ou me casar. Sentia-me grávido de dois buchos, ambos queridos, ambos fonte de realização e de felicidade - mas incompatíveis. Qual dos dois sacrificar? Para complicar, havia o peso de minha estrutura familiar. Meus dois irmãos bispos fizeram de tudo para preservar minha condição de padre. Ao final, optei por deixar o ministério e me sinto realizado na minha família.Como leigo, me dediquei à educação, sobretudo de jovens e adultos. Por 12 anos, atuei como Diretor Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi). Em 1978, casei com a Juciara e tivemos dois filhos, Emmanuel e Raissa.Permaneço ligado à Igreja, sobretudo aos valores. Colaboro com dioceses e paróquias no que me solicitam. Não aspiro voltar ao exercício do ministério sacerdotal. A esclerose das estruturas é paralisante e deformadora. Impede a afirmação do batismo como o sacramento fundante da Igreja.O papa Francisco representa uma primavera no mundo e na Igreja. Sua inspiração de vivificar o cotidiano das pessoas com valores evangélicos encanta a todos. Cria pontes, não ergue muros. Já que fui reduzido ao estado leigo - na triste expressão do rescrito romano que me dispensou do ministério sacerdotal - aqui permanecerei, embora respeite os colegas que desejam voltar a ser padre."

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