Transexuais fazem pressão e mudam tema da Parada Gay de SP

Edição deste ano vai pedir aprovação de projeto de lei que autoriza troca de nome em documento sem cirurgia de mudança de sexo

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Por William Castanho
Atualização:

SÃO PAULO - Após pressão de transexuais, a Parada do Orgulho Gay de São Paulo mudou o tema deste ano. A 18.ª edição da festa, marcada para o dia 4 de maio, na Avenida Paulista, vai pedir a aprovação do projeto de lei de identidade de gênero que autoriza transexuais a trocar nome, foto e sexo em documentos oficiais sem a necessidade de fazer cirurgia de mudança de sexo, terapia hormonal ou autorização judicial.

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A Associação da Parada do Orgulho GLBT (Apoglbt) decidiu alterar o tema na noite desta quarta-feira, dia 19, durante reunião da diretoria com transexuais. De acordo com o presidente da entidade, Fernando Quaresma, ficou acordado que o lema será "País vencedor é País sem HomoLesboTransFobia! Chega de Mortes! Criminalização Já! Pela aprovação da Lei de Identidade de Gênero!".

No dia 22 do mês passado, cinco diretores da Apoglbt, após período de recebimento de sugestões de tema, haviam escolhido "País vencedor é País sem Homofobia. Chega de Mortes! Criminalização Já!". A proposta retoma o pedido de aprovação do PLC 122/2006 que pune homofobia. No dia 30, porém, uma petição foi aberta no Avaaz e, até as 14h desta quinta-feira, 20, obteve a assinatura de 6,5 mil internautas em defesa do tema "Eu respeito travestis e transexuais e quero a aprovação do Projeto de Lei João Nery!".

A direção da entidade havia publicado, no dia 11 deste mês, em seu site que o tema não poderia ser alterado. No entanto, a posição foi revista. "O tema não mudou. O tema é o mesmo. Incluímos homolesbotransfobia. Acrescentamos o pedido de aprovação da Lei de Identidade de Gênero", afirmou Quaresma.

A ativista transfeminista Daniela Andrade, de 33 anos, participou da reunião que alterou o lema do evento deste ano. Foi ela quem criou a petição online. "A Parada tem 18 anos e nenhuma edição teve um tema específico para o 'T' da sigla LGBT. As transexuais e travestis, certamente, são a população mais vulnerável do ponto de vista socioeconômico. Muito da violência sofrida por 'trans' acontece porque não há o reconhecimento legal do Estado brasileiro para essa população."

Para Daniela, a mobilização nas redes sociais levou à mudança. "Foi uma vitória da população trans e de seus aliados. Se não houve pressão, se alguém não tivesse tomado a iniciativa, a assembleia na Parada não teria acontecido", disse a ativista.

Nome da lei. O psicólogo e escritor João Nery, de 64 anos, que deu nome à lei de identidade de gênero, é considerado o primeiro transexual masculino do Brasil. Ele comemorou a decisão da direção da Parada. "Estou felicíssimo. Afinal, lutei para isso", afirmou o autor do livro Viagem Solitária que narra a história desde criança, quando o menino não se identificava no corpo de menina, e passou pela autoafirmação de sua identidade masculina.

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"A mudança do tema da parada dá visibilidade às 'trans' e aos 'trans' com uma lei que os libertará dos constrangimentos, da doença e das obrigações cirúrgicas e terapêuticas. Dá visibilidade não mais como alegorias da parada, mas como cidadãos que somos", afirmou o transexual.

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