
11 de março de 2012 | 03h01
Lá, há mais de 13 mil livros, escritos em 34 idiomas. Além da língua nativa, o bibliotecário búlgaro, de 21 anos, fala russo, inglês, espanhol e português. Na prisão onde há vários poliglotas, o idioma mais falado é o português, geralmente aprendido em aulas na própria unidade. No entanto, na hora de ler, os detentos preferem o inglês e o espanhol.
E apesar das TVs nas celas, a biblioteca é bastante movimentada, revela o agente penitenciário José Veiga, responsável pelo espaço. "O nível de escolaridade é maior do que em outras prisões", afirma o funcionário. Por isso, há quem prefira leituras mais densas, como O Processo, de Franz Kafka, ou Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.
Entre os funcionários da prisão, a leitura é vista com bons olhos. Não porque haja um interesse particular na erudição desse ou daquele detento, mas porque esse tipo de atividade ajuda a acalmar e a matar o tempo.
Diretor da unidade, Mauro Henrique Branco explica que a biblioteca foi crescendo com doações. "A editora do Paulo Coelho mandou livros escritos em vários idiomas."
Branco está em Itaí antes de chegarem os estrangeiros, quando a unidade abrigava detentos ameaçados em outras unidades, como estupradores. Em 2006, o governo do Estado resolveu criar a unidade específica para presos de outras nacionalidades que, nas prisões comuns, acabavam sendo vítimas dos brasileiros.
Único. A mistura de nacionalidades transforma Itaí em um presídio diferente de todos os outros. A começar pelo fato de a unidade não ser dominada pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Na penitenciária, de acordo com a direção, nunca aconteceu uma rebelião.
Em um local onde há tanta gente falando línguas diferentes os mal-entendidos poderiam ser frequentes. Atualmente, há cinco israelenses e 18 libaneses na unidade. Apesar disso, diferentemente do que ocorre entre os dois países, não há registro de conflitos por questões religiosas entre muçulmanos e judeus. Também não há confusão entre presos de países que já entraram em guerra. São os latino-americanos, de sangue quente, os que mais dão trabalho para a direção da prisão.
Segundo funcionários, os "marrentos" peruanos, bolivianos e chilenos têm rivalidade com o grupo de africanos, principalmente os nigerianos. Quando começa o bate-boca entre esses grupos, as discussões, quase sempre, acabam descambando para o racismo. /A.R.
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