Tomadas do Metrô 'salvam' celulares

Passageiros da rede paulistana disputam pontos nas estações para manter aparelhos carregados

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Por Felipe Resk
Atualização:

Para quem ficou sem bateria em uma estação de metrô, a “luz no fim do túnel” está escondida em um canto de parede ou atrás de uma pilastra. Cada vez mais, usuários do transporte sobre trilhos de São Paulo têm recorrido a tomadas espalhadas pelas plataformas para recarregar celulares e smartphones – mesmo não sendo essa a função original daqueles dispositivos. Em horário de pico, a procura aumenta e filas se formam.

Na maioria das estações, os passageiros se valem de tomadas que ficam em algum pavimento após as catracas e antes das plataformas de embarque e desembarque. De acordo com o Metrô, os dispositivos foram instalados para atividades operacionais e servem, por exemplo, para ligar equipamentos usados na limpeza. Com o tempo, no entanto, passaram a atrair a atenção dos passageiros.

Tomadas para carregar bateria de celulares disponiveis na estacao Se do metro. Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Não raro, é possível encontrar grupos sentados no chão, alheios à correria da chegada e partida dos trens, esperando o aparelho ganhar uns pontinhos de carga. “Para mim, carregar o celular no Metrô é algo supernovo”, disse o passageiro Felipe Mathiello, de 23 anos, que espetou o carregador do smartphone em uma tomada da Estação República, conexão entre as Linhas 3-Vermelha e 4-Amarela, no centro, ao notar que a bateria estava em 11%.

Mathiello contou que foi “salvo” pela primeira vez na Estação Sé, integração das Linha 1-Azul e 3-Vermelha, no centro. “Comecei a ‘caçar’ uma tomada e vi um monte de gente no chão”, afirmou. Além de ser a mais movimentada da capital, a Sé é uma das poucas que oferecem Wi-Fi livre aos passageiros. “Outro dia um rapaz pediu a outro para colocar um ‘T’ (extensão), porque também queria carregar o celular”, contou.

Foi na Sé que o açougueiro Emerson Arcanjo, de 43 anos, tentou dar um reforço na bateria, mas não encontrou nenhuma tomada desocupada. “Essa aqui não funciona”, disse, apontando para um dispositivo atrás de uma pilastra. Ainda assim, resolveu esticar o tempo na estação, para aproveitar a internet.

“Hoje, não é mais um luxo, é uma necessidade”, disse Arcanjo. Absorto em um jogo de celular, quase não deu atenção a dois seguranças do Metrô que imobilizaram um rapaz a poucos metros de distância. O homem era detido após tirar foto sem permissão de uma passageira dentro do trem.

O auxiliar administrativo Brando Chiquinelli, de 21 anos, disse que nunca teve problema para aproveitar as tomadas. “Uso mais para serviço, para falar com cliente ou com o chefe”, disse o jovem, que passou cerca de 15 minutos na Sé. “É tranquilo, mas, se colocassem mais opções, seria melhor”, afirmou.

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O Metrô informou que não impede os passageiros de usar as tomadas, mas ressaltou que elas não foram instaladas para essa finalidade. Em nota, a empresa afirmou que está atenta “às necessidades de seus usuários e estuda formas de fornecer pontos para recarga de bateria de celulares”. A ideia contemplaria a ampliação dos pontos de Wi-Fi, atualmente disponíveis também nas Estações Paraíso, Ana Rosa, Jabaquara, Tamanduateí e Vila Prudente. 

Pontos de recarga. Neste ano, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) implementou o primeiro ponto de apoio para carregadores de celular, equipado com seis tomadas e uma bancada de suporte, na Estação Pinheiros, na zona oeste, por onde circulam 200 mil pessoas diariamente. Em 2014, a companhia havia instalado pontos com duas tomadas nas Estações Tatuapé e Corinthians-Itaquera. 

“A gente está sempre mandando e-mail ou mensagem. E a bateria cai muito rápido”, disse o publicitário Filipe Rodrigues, que usou o equipamento da CPTM. Na sua opinião, é preciso investir mais. “Existe essa deficiência. Deveria ter mais estações de trem, metrô e terminais de ônibus equipados.”