Tô de Bowie atrai cerca de 28 mil no centro de São Paulo

Cortejo teve 'Batman' pedindo 'Branca de Neve' em casamento

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Por Edison Veiga
Atualização:

Talvez seja o resumo do que se tornou esse fenômeno chamado "carnaval de rua de São Paulo": uma multidão atrás de um trio elétrico em cortejo pelo centro cantando e dançando adaptações de hits de um dos maiores ídolos da música pop mundial. O Bloco Tô de Bowie aglutinou, segundo os organizadores, 28 mil foliões em homenagem ao músico David Bowie (1947-2016). 

"O carnaval de São Paulo tem espaço para essas homenagens. Não é só samba", disse um dos organizadores do bloco, o designer Renato Souza, de 27 anos. E se Bowie era o "camaleão do rock", nada melhor do que sua própria história para inspirar fantasias - a que mais se repetia era a pintura de um relâmpago vermelho na face, como na capa do disco Aladdin Sane, que Bowie lançou em 1973. Também havia gente fantasiasdo de astronauta com óculos escuros, outros com desenhos de sol pintados na testa. O bloco animou a multidão com músicas como Heroes, Let's Dance e Sound and Vision.

'Branca de Neve' aceita pedido de casamento do 'Batman' no Tô de Bowie Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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Claro que houve espaço também para outras fantasias. Quem roubou a cena, por volta das 17h30, foi um homem vestido de Batman. Ele subiu no trio elétrico e fez um pedido de casamento à namorada, no caso, uma Branca de Neve. Todo mundo aplaudiu, ovacionou, foi uma festa. Aparentemente ela aceitou - houve até trocas de alianças em cima do caminhão.

Os organizadores se empenharam em demonstrar que o bloco não era nenhum oportunismo midiático pela recente morte do ídolo, no mês passado. "É claro que, com a comoção, o público do bloco foi maior do que contávamos. Mas é importante frisar que o Tô de Bowie foi criado no ano passado", afirmou. No carnaval de 2015, um grupo de nove amigos decidiu sair pelas ruas cantando e homenageando o astro pop. No fim do ano, o bloco foi inscrito dentre os mais de 350 oficiais da Prefeitura. Mas, com a morte de Bowie e o súbito interesse de um público maior, até o trajeto original teve de ser alterado - a saída do cortejo, às 16h de ontem, foi na Praça Princesa Isabel. 

"Vim porque eu amo David Bowie. Não ligo para carnaval, mas aqui não poderia deixar de vir", disse a estudante Debora Miranda Guimarães, de 18 anos. "Achei muito legal decidirem homenageá-lo", completou a também estudante Lara Maria Laurentino Vieira, de 16 anos.

Alguns admitiram estar no carnaval pela primeira vez, tudo por causa do astro pop. "Nunca fui de curtir carnaval. Decidi que este bloco merecia", disse a estudante Julia Amato Mantegari, de 17 anos. "Não sou muito fã de carnaval, mas me convenceram a vir neste por causa do Bowie", afirmou a estudante Mayara Barbosa, de 19 anos. "Não tenho nada contra carnaval, mas é a primeira vez que topo vir a um bloco", comentou a também estudante Beatriz Benedetti, de 18 anos. 

"Mais do que as músicas, admiro muito a história de Bowie. Sou fãzaça mesmo", comentou a cabeleireira Sabrina Cunha, de 30 anos. "Ele é um clássico", disse a recepcionista Micaela Dayene da Silva, de 19 anos, enquanto dava os últimos retoques no relâmpago pintado no rosto. "Tenho todos os discos, sei todas as músicas de cor. Nunca imaginava ser possível ver uma homenagem para ele em um carnaval. Está lindo", afirmou a comerciante Marieta Assis da Silva, de 32 anos. 

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Entorno. Se a Avenida Rio Branco foi pequena para o tamanho da multidão e quem estava longe do trio mal consegui ouvir as músicas do Bowie, pequenos núcleos de música, festa e bebida foram surgindo pelo caminho. Gente que desistia de acompanhar o bloco, gente que saía pelas ruas paralelas, como a Guaianazes. E aí, os ritmos que saíam das caixas de som improvisadas ou até mesmo dos violões surgidos sabe-se lá de ontem eram os mais variados: do funk da perifa ao sambinha clássico. "Carnaval é isso, é espaço para todo mundo, é a rua dominada pelo povo", filosofou uma foliã que nem nome quis dar, enquanto cantava uma marchinha e demonstrava estar já mais para quarta-feira. "Estava muito cheio. Como não consegui acompanhar o bloco decidi ficar curtindo por aqui mesmo", comentou o corretor de seguros Edson Braz, 34 anos. 

Pouco após as 19h, o bloco chegou ao Vale do Anhangabaú, onde ocorreria a dispersão. Do sonho de um grupo de nove amigos a uma multidão que decidiu homenagear um ídolo morto recentemente, o Tô de Bowie entrou para o calendário da folia paulistana. 

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