SÃO PAULO, 2 - Dois dias após o Estado revelar que um assessor marcava presenças para vereadores nas sessões da Câmara Municipal de São Paulo, uma prova da fraude foi adulterada. O terminal usado dentro de uma gaveta pelo servidor José Luís dos Santos, o Zé Careca, foi retirado da posição em que ficava na Mesa Diretora, conforme mostram as gravações e fotos (veja abaixo) feitas pela reportagem entre os dias 12 e 28 de junho. No lugar onde ficava o aparelho usado para marcar as presenças de parlamentares com senha foi colocado outro de uso biométrico - onde a confirmação de presença em plenário só pode ser feita por digitais. Já o terminal usado na fraude foi colocado agora sobre a mesa, em local visível.
A mudança de posição dos equipamentos foi constatada pelo Estado enquanto o presidente do Legislativo, José Police Neto (PSD), apresentava o plenário à imprensa. No início, o presidente acreditava que os aparelhos haviam passado por manutenção. Mas, minutos depois, admitiu que eles podem ter sido trocados. "Isso será checado em investigação administrativa", disse Police Neto, visivelmente constrangido.
A adulteração na posição do equipamento pode ter ocorrido na quinta-feira à noite, quando Zé Careca e cinco assessores voltaram ao plenário quando já não havia mais vereadores ou funcionários no local. A equipe permaneceu cerca de 40 minutos mexendo nos terminais da Mesa Diretora.
A equipe de assessores e Zé Careca só deixou o plenário após constatarem a presença de um fotógrafo nas arquibancadas da Casa. Poucos funcionários ainda estavam no Palácio Anchieta àquela hora, por volta das 19h30. O diretor de Tecnologia da Câmara, Eduardo Myashiro, também não soube explicar a troca dos equipamentos. "Não sei o motivo da troca", admitiu o diretor.
Nas mais de 20 horas de gravações de sessões, o Estado constatou que Zé Careca usava um terminal de uso exclusivo do parlamentar para registrar a presença de vereadores ausentes. É esse painel que agora foi trocado de posição. O Ministério Público Estadual considera as denúncias graves e vai abrir inquérito para investigar possível improbidade administrativa cometida pelos parlamentares.
Pela primeira vez, o presidente da Câmara admitiu ontem que o sistema eletrônico de votação é falho e precisa de mudanças. Police Neto cogita também retirar o painel que funciona em uma sala ao lado do plenário, longe do público, e exigir que a marcação das presenças seja feita apenas com digitais. "É um processo que precisa agora ser construído com os outros parlamentares, não posso tomar uma decisão absolutista", argumentou o presidente.
Ele ainda estuda mudar a forma de remuneração dos vereadores para evitar quoruns fantasmas durante as votações. "Para efeito de remuneração, podemos considerar os presentes na última verificação de quorum feita em plenário", disse o presidente.