Temporal mudou a geografia da região

Desmoronamentos alteraram toda a bacia; Exército sobrevoa área para atualizar mapas

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Por Paulo Sampaio
Atualização:

Coordenador de engenharia no resgate às vítimas de Nova Friburgo, o presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio (Emop), Ícaro Moreno Júnior, diz que as chuvas foram tão devastadoras na cidade que "mudaram o curso dos rios". "A bacia hidrográfica passou a ser outra, e isso altera também o ecossistema. Vamos ter de refazer o desenho dos rios nos mapas e acrescentar ilhas fluviais que nunca existiram. E não há como voltar ao traçado antigo porque muitos dos sobreviventes foram parar nessas ilhas."Ontem pela manhã, homens do Exército começaram a sobrevoar as áreas atingidas para fotografar a nova geografia das cidades. As imagens captadas são depois inseridas em um programa de computador, que cria os mapas a partir desses dados. O Exército espera ter esses mapas impressos em no máximo 48 horas. "Os deslizamentos e as enchentes modificaram muito a geografia das cidades, principalmente nas áreas rurais. Isso traz dificuldade para as tropas se localizarem", diz o major Rovian Alexandre Janjar, do Exército.Segundo Moreno, o desmatamento e a ocupação em área de risco deram sua contribuição, mas, "mesmo que fosse apenas a chuva sozinha, a catástrofe teria dimensões sem precedentes". "Os deslizamentos ocorreram mais até em áreas intocadas pelo homem."Moreno afirma que a área mais atingida da cidade foi Córrego Dantas, às margens da estrada que liga Friburgo a Teresópolis. Ali, um riacho que tinha 4 metros de largura por 2m de profundidade passou a ter 100m por 8m. Ele nega que tenham ocorrido tremores de terra além dos causados pelos deslizamentos, como acreditam alguns moradores da região.Alimentos. Os estragos causados na agricultura podem desabastecer o mercado fluminense de verduras e legumes por tempo indeterminado, segundo o presidente da Associação Comercial de Nova Friburgo - que também agrega hortifrutigranjeiros -, Cláudio Verbicário. "Os maiores fornecedores desses gêneros para o Rio são Friburgo e Teresópolis. E está tudo destruído", diz.Verbicário diz que os prejuízos são incalculáveis, especialmente pelo tempo que a economia da cidade vai demorar para se reerguer. "O custo enchente é muito alto, não só em termos geográficos e humanos, mas para a economia local. Até a cidade entrar nos trilhos de novo, estamos perdendo fortunas por dia."Os supermercados da cidade abriram parcialmente as portas ontem, alguns oferecendo preços mais baixos. No Casa Friburgo, o pão foi de R$ 5,80 o quilo para R$ 5,60. A maioria das lojas de roupas e móveis permaneceu fechada. Verbicário diz que os comerciantes dali em geral seguem o que ele chama de "semana inglesa": às segundas-feiras, só abrem as lojas ao meio-dia. A maior parte, porém, não abriu. / COLABOROU BRUNO TAVARES

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