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Superlotação é o principal desafio, diz novo presidente do Metrô

Peter Walker toma posse até o fim do mês e disse que pretende ir trabalhar de metrô

Por Caio do Valle - Jornal da Tarde
Atualização:

O novo presidente do Metrô de São Paulo, o engenheiro eletricista Peter Berkely Walker, afirmou hoje (13) que o principal desafio do sistema é a superlotação. Ele deve tomar posse do cargo até o fim do mês, após a aprovação de seu nome pelo Conselho de Administração do Metrô, que reúne acionistas da empresa. Walker disse ainda que pretende ir trabalhar de metrô.

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Atual secretário adjunto de Transportes Metropolitanos, ele substituirá o economista José Kalil Neto, que voltará para a diretoria de finanças do Metrô. Kalil Neto está há apenas nove dias no cargo. No dia seguinte à sua posse, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que ele foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa quando era diretor da estatal Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa).

Depois disso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que indicaria um novo nome após a Páscoa.

Kalil Neto, por sua vez, substituiu o advogado Sérgio Avelleda, que pediu as contas no último dia 4, após ficar pouco mais de um ano no cargo. Avelleda chegou a ser afastado da presidência do Metrô pela Justiça em novembro do ano passado, por suspeita de fraude na licitação nas obras da Linha 5-Lilás. Ele já saiu com um emprego novo, em uma empresa privada de logística e transporte ferroviário.

Walker afirmou hoje que não vê problema nisso. "Você pode sair e trabalhar em uma empresa que presta serviço para o Metrô. Se você for um homem correto e sério, a vida continua. Não parte do pressuposto que é suspeito", disse.

Veja a seguir trecho da entrevista que concedeu em Hortolândia, no interior, onde Alckmin o anunciou como o novo presidente do Metrô, durante a inauguração da fábrica de monotrilhos da futura expansão da Linha 2-Verde.

Na avaliação do senhor, qual é o principal desafio do Metrô de São Paulo?

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Peter Walker - É dar conta do aumento da esperança da população, que parou de andar de ônibus. Você não vê ônibus superlotados, porque as pessoas escolheram um sistema melhor. Esse sistema melhor, chega uma hora, que é preciso pôr mais trens, mais energia. O trem não anda sozinho. Você quer falar no seu telefone celular, mas daqui a pouco a energia acaba. Experimente pôr cinco telefones com a mesma bateria. É a mesma coisa do nosso sistema. Estamos reaparelhando. A CPTM parando aos domingos, o Metrô também.

Então, a superlotação é o principal desafio?

Peter Walker - Sim, sem dúvida. Do Metrô, da CPTM... Ontem, saí um pouco mais tarde de casa. Moro na Pamplona. Fiquei parado no engarrafamento e falei para o meu motorista: "Você vê algum carro velho rodando aqui? Tem alguma Brasília, algum Monza, alguma Belina?" Esse aumento do poder aquisitivo do brasileiro está refletindo para todos, em aeroportos, em ferrovias, no Metrô, na CPTM. E nós temos que correr atrás.

O senhor costuma andar de metrô?

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Peter Walker - Sim. Eu subo na Estação Pamplona (o nome correto dessa estação é Trianon-Masp) e vou para a Linha 4-Amarela, ou vou para a Estação Paraíso, e desço na Rua Boa Vista (onde fica a sede da Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos). É comum eu fazer isso. Se você vai trabalhar em alguma coisa, você precisa conhecer o local, sentir, ver uma pessoa irritada, saber o que está acontecendo.

O senhor vai trabalhar de metrô?

Peter Walker - Pode ser que eu vá. Alguns dias eu vou. Eu tenho família no Paraíso. Moro na Pamplona, subo algumas quadras e ando, normalmente. Porque eu fui o coordenador do final da implantação da Linha 4-Amarela. Eu ficava pegando no pé de por que não tinha escada rolante, de por que caiu a energia. Então, eu conheço um pouco, felizmente.

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E da gestão do Sérgio Avelleda, o que o senhor achou?

Peter Walker - Sou suspeito. O Sérgio é como se fosse filho meu. Eu que levei o Sérgio para São Paulo. O Sérgio tem 41 anos, nós somos amigos há 20. Eu o apresentei ao Jurandir (Jurandir Fernandes, secretário estadual de Transportes Metropolitanos), entende? É um amigo que tem os seus convites, jovem, com uma proposta muito boa e foi seguir o rumo dele.

O que o senhor acha de ele ir trabalhar em uma empresa privada do segmento ferroviário imediatamente depois de sair do Metrô (Avelleda também foi presidente da CPTM)?

Peter Walker - O que o presidente dessa empresa falou? Que não recebe um tostão do Estado. Não preciso dizer mais nada. E, além disso, tem a questão de seriedade. Você pode sair e trabalhar em uma empresa que presta serviço para o Metrô. Se você for um homem correto e sério, a vida continua. Não parte do pressuposto que é suspeito. Nós partimos do pressuposto que se fez alguma coisa suspeita, depois tem que provar. Tem que ver. Se ele achou bonito trabalhar na indústria ferroviária, deve seguir a carreira dele, que é uma carreira bonita.

Nos setores públicos, os funcionários não deveriam cumprir uma certa quarentena para ir para a iniciativa privada em uma área com interesses tão próximos?

Peter Walker - Aí precisa ter um sistema de pagar o salário dele, certo? Não sei se vocês sabem, mas ele derrubou a ação contra ele no Tribunal de Justiça por 25 a zero. De todos os desembargadores, 25 reunidos, nenhum foi a favor do que foi feito com ele. Quem pagou a defesa dele? Foi ele.

Um novo meio de operar os trens, o CBTC (sigla em inglês pra controle de trens baseado em telecomunicação), que começou a ser instalado no Metrô no ano retrasado, apresentou uma falha na quarta-feira (11). No ano passado, o equipamento também falhou algumas vezes. O senhor acredita na eficácia desse sistema?

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Peter Walker - É lógico que nós acreditamos. É o modo mais moderno do mundo de diminuir o intervalo entre trens. Está funcionando em vários países. Tecnologia totalmente nova. Então, nós acreditamos e está sendo implantado. Em algumas linhas nossas, já está funcionando. A Linha 4-Amarela é inteirinha com CBTC. Esse problema nunca deu para eles.

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