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Sob chuva, 800 mil fazem festa e política no rio

Na 15ª edição do evento, clima de carnaval fora de época mistura-se a discursos em prol de direitos como a união civil entre homossexuais e pela aprovação de lei no Senado que torna homofobia crime

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Apesar de ter roubado público da 15.ª Parada do Orgulho LGBT, a chuva fina não arrefeceu as cerca de 800 mil pessoas (segundo cálculo dos organizadores) que ocuparam quase toda a extensão da Avenida Atlântica, em Copacabana, ontem à tarde.Considerada a quinta maior do mundo e destaque entre os eventos do gênero no País, a parada é promovida pelo Grupo Arco-Íris, pioneiro na luta pelos direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, e tem apoio dos governos estadual e municipal, que enviaram seus representantes.Ano após ano, a organização tenta aliar seu caráter festivo - que atrai muitas famílias de Copacabana, turistas e casais heterossexuais simpatizantes - aos discursos em defesa de direitos como a união civil entre pessoas do mesmo sexo e, neste ano em particular, a aprovação no Senado do Projeto de Lei 122, que torna a homofobia crime.Sempre haverá os que vão a Copacabana somente para beber, dançar ao som dos trios elétricos (13 caminhões tocando música eletrônica) e paquerar. Mas o clima de "carnaval fora de época", com muita bebida alcoólica à venda, transformistas caracterizados e gente fantasiada com adereços multicoloridos, não diminui em nada o impacto de discursos como o de Julio Moreira, presidente do Arco-Íris."Dançar e beijar na boca é muito bom, mas não podemos esquecer de falar que a homofobia atinge a todos. Quando chamam o menino na escola de "veadinho", a família toda é afetada, os amigos sofrem por tabela." As intervenções feitas do púlpito lembraram também a violência física contra homossexuais. A cada dois dias, um brasileiro é assassinado por causa da sua opção sexual. A discriminação também é preocupante: segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo (FPA) de 2009, cerca de 26% dos brasileiros admitem seu próprio preconceito.Religião. Chamaram atenção na parada faixas com dizeres como "Sou gay, e pela graça de Deus sou o que sou" e "Homossexualidade - A Bíblia não condena" e as alusões ao "obscurantismo que marcou as últimas eleições", no tocante à causa homossexual e à das mulheres.O ativista Claudio Nascimento, desbravador da militância gay, lembrou as dificuldades que marcaram os primeiros anos da parada. "Eu tinha apenas 25 anos e vi que precisávamos mostrar que éramos muitos. Fomos à prefeitura e eles não queriam deixar que a parada fosse em Copacabana, tinha que ficar escondida", conta. "Saímos de baixo do tapete."

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