Só falta esclarecer as intenções do escritório francês

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Por Redação
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Bastidores: Andrei NettoAs causas da queda do voo AF-447, Rio-Paris, em 31 de maio de 2009, são agora conhecidas. Mas ainda paira uma dúvida: por que o BEA foi tão pouco transparente em todo o processo?A apresentação do documento começou pela manhã, quando os experts reuniram as famílias de vítimas e evocaram sua principal conclusão: os pilotos só obedeceram as ordens dadas pelos sistemas de navegação. À tarde, falando para a imprensa francesa e internacional, o discurso dos peritos foi outro, bem mais centrado nas falhas dos pilotos.Aos jornalistas, foi entregue uma síntese de cinco páginas. Aí, havia frases taxativas culpando os pilotos. E levavam os jornalistas a crer que a culpa do acidente era dos pilotos. Apenas uma vez, em cinco páginas, o BEA dizia que um equipamento do Airbus, o "diretor de voo", tinha fornecido informações erradas. Então, em meio à entrevista coletiva, um piloto e perito independente, Gérard Arnoux, pediu a palavra e fez cinco perguntas técnicas objetivas, sobre falhas dos equipamentos do Airbus. A intervenção provocou um evidente mal-estar entre os peritos do BEA. Logo depois, parentes de vítimas questionaram por que o BEA estava dando à imprensa uma versão diferente.Houve novo mal-estar. E aí os técnicos do BEA, encurralados, passaram a admitir a importância das falhas do Airbus. Também reconheceram que o treinamento fornecido pela Air France aos pilotos que enfrentam situações de crise era insuficiente e deram a entender que as agências de aviação civil da França e da Europa demoraram a reconhecer a importância de incidentes anteriores similares.Qual era o objetivo do BEA com seu duplo discurso? Talvez isso se explique pelo eterno conflito de interesses na França, onde tudo pertence ao Estado: o fabricante dos Pitots (Thales), o fabricante do avião (Airbus), a companhia aérea (Air France) e o BEA. Além do nítido conflito de interesses, há uma clara falta de autonomia. Só não vê quem não quer.

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