SÃO PAULO - A Prefeitura de São Sebastião classifica a construção do Contorno Norte da Tamoios como o "maior desmatamento da história" na Mata Atlântica do litoral norte. Segundo o secretário do Meio Ambiente da cidade, Eduardo Hipólito Rego, a área total a ser desmatada chega a 370 mil metros quadrados - espaço equivalente ao dos Parques da Independência e da Aclimação, ambos na zona sul da capital, juntos.
Segundo Rego, há duas questões "graves" para debater. A primeira é o próprio desmatamento. "A região afetada tem locais de Mata Atlântica preservada, cachoeiras, nascentes. A área de Caraguatatuba é mais plana, mas em São Sebastião será preciso fazer cortes na serra, algo irreparável", afirma. Há também locais que incluem pastos e moradias.
Rego diz que a Prefeitura tentou alterar o traçado da obra durante as audiências públicas obrigatórias (que fazem parte do processo de licenciamento ambiental), mas não conseguiu. A administração municipal pedia mais áreas subterrâneas, como túneis sob a serra. "Nenhum dos nossos questionamentos foi atendido", reclama o secretário.
Ocupações irregulares. A outra questão levantada por Rego é social. "Será preciso deslocar 5 mil pessoas", diz ele. O problema é que não há outras áreas nas cidades para receber esses moradores, que já viviam em lugares invadidos, nem certeza de que permanecerão na mesma região. "Sem contar a questão da especulação imobiliária. As áreas por onde vai passar a pista estão registrando crescimento de 7% a 10% ao ano. São novas ocupações ilegais, movidas pela grilagem, na esperança de que, quando houver os deslocamentos, as pessoas consigam moradia", diz ele.
Cerca de 95% dessas pessoas são de famílias de baixíssima renda, afirma o secretário municipal. "O que prevaleceu foram os aspectos econômicos para a construção da obra, mas não é possível colocar preço na mata. Quanto vale a área que será desmatada?", questiona Rego.
Trânsito. A construção dos Contornos Norte e Sul está relacionada à duplicação dos trechos de planalto e de serra da Rodovia dos Tamoios. Se a obra não for feita, o governo do Estado e as prefeituras da região argumentam que os veículos encontrarão em Caraguatatuba um gargalo, com impactos enormes no trânsito - já saturado em feriados e temporadas.
A duplicação do trecho de planalto da Tamoios já está sendo feita. Enquanto isso, o governo do Estado prepara uma Parceria Público-Privada (PPP) para o trecho de serra no ano que vem.
Por outro lado, os impactos positivos da construção dos contornos pode ser afetada por outra obra, a ampliação do Porto de São Sebastião. "A região não comporta essa estrutura toda", afirma o ambientalista Mário Mantovani, da organização não governamental SOS Mata Atlântica.
Ele não concorda com as previsões de melhoria do trânsito. "O que vai acontecer é mudar o congestionamento de lugar. Estão ampliando a área do gargalo no trânsito", afirma.
O motivo é a expectativa de aumento do trânsito de caminhões fazendo a rota entre o porto e o alto da Serra do Mar. "O porto não deveria ser ampliado para receber contêineres. Deveria ficar só no embarque de líquidos."
Para o ambientalista, a junção de todas as obras também fará, futuramente, com que a Tamoios fique muito parecida à região de Cubatão, entre o Porto de Santos e a Rodovia Anchieta, no litoral sul.
