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Senegaleses são novo grupo de estrangeiros trazidos por coiotes

Após haitianos, africanos são 2º maior grupo que cruza fronteira do Peru com País; viagem dura 9 dias e cada um paga até US$ 3,5 mil

Por Isabela Palhares
Atualização:
Oração. De maioria muçulmana, senegaleses rezam em mesquita com outros estrangeiros Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

SÃO PAULO - Todo dia, às 17h30, Papa Bá, de 28 anos, se reúne com outros 30 muçulmanos para rezar em direção a Meca, na Arábia Saudita. Esse é um dos únicos momentos em que encontra alguma familiaridade com os costumes de casa. Senegalês, Bá está em São Paulo há menos de uma semana e já se juntou a uma comunidade que cresce a cada dia na cidade.

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De janeiro a outubro de 2014, os senegaleses foram o povo que mais solicitou refúgio no País – 1.687 de 8.302 pedidos. Apesar disso, o Comitê Nacional de Refugiados (Conare) não aceitou no ano passado nenhum pedido de senegalês. Sem ser considerados refugiados, o que garante direitos iguais aos de qualquer estrangeiro legalizado, os senegaleses enfrentam dificuldades para se manter no País.

Bá fez uma viagem de nove dias até o Brasil. Com o custo de cerca de US$ 3,5 mil, ele teve “escalas” em Madri, na Espanha; Quito, no Equador; e Lima, no Peru. Só depois conseguiu entrar no Brasil, pelo Acre, e, então, de Rio Branco seguir para São Paulo.

Nilson Mourão, secretário de Direitos Humanos do Acre, disse que os senegaleses são, atrás dos haitianos, o segundo maior grupo de estrangeiros “agenciados” por duas equipes de coiotes para entrar no Brasil – uma que os ajuda a chegar ao Equador e outra que os encaminha até Rio Branco.

Bá é formado em Línguas Estrangeiras em uma universidade pública do Senegal e disse que todo o sacrifício da viagem foi válido para fugir da pobreza de seu país. Desde que se formou, há dois anos, ele não conseguia emprego. Agora, ele espera continuar os estudos em uma universidade brasileira e trabalhar com tradução. 

De acordo com o Conare, o refúgio não é concedido se não for comprovado “o temor de perseguição por motivos de raça, religião, grupo social ou opiniões políticas, pelo qual o solicitante se viu obrigado a deixar o seu país de origem” ou quando não é verificada uma situação grave e generalizada de violação dos direitos humanos.

Esse seria o caso dos senegaleses. O país, apesar de ter uma situação de miséria e pouca oferta de empregos (está entre os 25 países com mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano), não sofre com guerras civis e tem uma democracia considerada consolidada.

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Grávida. Foi pela falta de oportunidades em seu país que a senegalesa Astu Culibaly, de 28 anos, decidiu, mesmo grávida de cinco meses, vir ao Brasil. “Estava sem emprego há mais de um ano e queria dar melhores condições à minha filha.”

Mesmo a viagem de nove dias pareceu mais fácil que a realidade que ela encontrou no Brasil. Grávida, não arrumava emprego e, depois, sem ter onde deixar a filha, também não conseguia trabalhar.

Agora, três anos depois e com mais uma filha de seis meses, Astu foi empregada por uma senegalesa que vende marmitex na Liberdade. “Consegui vaga na creche para as duas e, agora, posso trabalhar. Mas é difícil, ganho R$ 700 e só de aluguel por um quarto pago R$ 400.”

Com maioria da população muçulmana, os senegaleses que chegam a São Paulo costumam procurar abrigo em uma mesquita, na Rua Guaianases, no centro. Moruf Lawal, presidente da mesquita, disse que o local acolhe por dia cerca de 70 a 80 imigrantes. Ele estima que um terço seja de senegaleses. 

“Eles não tinham esperança de conseguir emprego no Senegal. Mesmo sendo difícil, aqui há oportunidades”, disse Lawal. Muitos se juntaram aos vendedores ambulantes do centro.

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