Sem-teto invadem sede da CDHU e hotel

Foram dois grupos: primeiro protestava contra reintegração de terreno; o segundo ocupou símbolo do luxo dos anos 1960 e 1970

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Por Laura Maia de Castro
Atualização:

SÃO PAULO - Sem-teto de diferentes movimentos protagonizaram nesta segunda-feira, 2, invasões e manifestações na capital paulista. No centro, perto do prédio da Prefeitura, houve a ocupação do antigo Hotel Othon Palace, na Rua Libero Badaró, e da sede da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), na Rua Boa Vista. A pauta da habitação, que tem levado milhares às ruas, deve ser responsável por mais atos nesta semana. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), por exemplo, já divulgou um protesto nesta quarta-feira, 4, na Vila Matilde, na zona leste da cidade.

Em uma manifestação marcada pela presença de dezenas de crianças, um grupo de 600 sem-teto ligados à Rede de Comunidades do Extremo Sul protestou contra a reintegração de posse de um terreno da CDHU ocupado por eles na zona sul da cidade. Após bloquear a Avenida Paulista nos dois sentidos e caminhar cerca de 5 km, o grupo invadiu a sede da companhia com colchões, instrumentos e até fogão. 

Sem-teto ocupam hotel Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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Ao entrar no prédio, por volta das 16h, os sem-teto subiram de escada até o 8.º andar, onde fica a Ouvidoria da CDHU, gritando “queremos moradia” e “o povo unido jamais será vencido”. No saguão do prédio, idosos e crianças de colo estavam deitados no chão. Um grupo tocava música e jogava capoeira, enquanto representantes do movimento se reuniam com o presidente da CDHU, José Milton Dallari. Os sem-teto só saíram do prédio por volta das 20h30, após um acordo de suspensão da reintegração de posse, que estava prevista para hoje. Segundo uma das coordenadoras da Rede Extremo Sul, Sandra Moura, a CDHU se comprometeu a suspender a reintegração por 180 dias enquanto Estado e Município buscam uma solução habitacional para o grupo.

Em nota, a CDHU, disse que a área ocupada por essas famílias está destinada “à construção de unidades habitacionais para atendimento a famílias vinda de áreas de mananciais”. Mas disse que, juntamente com o Prefeitura, “está à disposição para auxiliar na viabilização de atendimento habitacional”.

Moradora da ocupação, batizada de Jardim União, Letícia da Silva, autônoma de 28 anos, caminhava há quatro horas com o filho no colo. “Estou com medo da reintegração. Fomos morar lá com nossos três filhos porque não conseguíamos pagar R$ 600 de aluguel.”

Carolina Oliveira, também coordenadora da Rede Extremo Sul, disse que os sem-teto dessa ocupação já passaram por outras reintegrações. “Essas famílias já foram despejadas cinco vezes de outro terreno no Itajaí, muitos não têm mais nada.”

Othon. A cerca de 500 metros da sede da CDHU, cerca de 700 sem-teto ligados a outro movimento, o de Luta por Moradia Digna (LMD), ocupavam pelo menos 15 andares do antigo hotel Othon Palace. O imóvel, que é um dos símbolos da hotelaria de luxo da capital paulista nas décadas de 1960 e 1970, foi invadido anteontem. O grupo entrou por um buraco no muro de concreto que protegia a entrada desde agosto do ano passado, quando 871 famílias que ocuparam o hotel em 2012 saíram de forma “amigável”, em um processo que, segundo a Prefeitura, custou R$ 30 milhões. 

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Em nota, a administração municipal afirmou que o local será a futura sede da Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, “o que vai render uma economia em aluguéis e condomínio da ordem de R$ 7,5 milhões por ano”. Na manhã desta terça, 3, está prevista uma reunião entre representantes da Secretaria Municipal de Habitação e líderes do movimento para tentar chegar a um acordo. “Este prédio é do povo. Isso aqui não é para ser secretaria”, disse um dos coordenadores do LMD, Júlio César Dias.

Prédio do Serviço Funerário. Na zona norte da capital paulista, um grupo de cerca de 80 sem-teto invadiu um prédio do Serviço Funerário, na Avenida Ernesto Augusto Lopes, altura do número 100. De acordo com a coordenadora do Movimento Independente por Moradia da Vila Maria, Adenilda Soares, a ocupação começou no domingo, 1, por volta das 22h30, e terminou às 18 horas desta segunda-feira, 2.

“Ocupamos um terreno em agosto do ano passado, e o prefeito Haddad nos prometeu que a área seria decretada de interesse social. Dez meses se passaram e nada foi feito”, disse ela. 

Segundo Adenilda, 2.620 famílias ocupam um terreno particular de 58 mil metros quadrados na Rua Manguari, número 250, e não têm para onde ir, caso haja reintegração. A retirada havia sido previamente marcada para o dia 19, mas não ocorreu. Foi remarcada para hoje, mas, segundo Adenilda, foi suspensa novamente pela Justiça. Líderes locais já haviam realizado protestos em abril e maio contra a reintegração.

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