Com cerca de 2,5 mil barracos montados em menos de 40 horas, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) batizou ontem de "Copa do Povo" a ocupação iniciada anteontem no Parque do Carmo, na zona leste de São Paulo. Centenas de famílias estão montando suas tendas em um terreno particular a cerca de 4 quilômetros da Arena Corinthians, onde será o primeiro jogo da Copa do Mundo.
Quem coordena a ocupação do terreno é Guilherme Boulos, líder do MTST que também comandou as ocupações Faixa de Gaza e Nova Palestina, ambas na zona sul da capital paulista. Agora, o movimento quer pressionar a Câmara Municipal de São Paulo a reservar a área do Parque do Carmo para a construção de conjuntos habitacionais destinados às famílias da ocupação. "O objetivo é pressionar vereadores a incluir esse terreno como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) na segunda votação do Plano Diretor", afirmou Boulos ao
Estado
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O terreno, na Rua Malmequer do Campo, tem 150 mil metros quadrados e, segundo o movimento, estava desocupado havia 29 anos. Os líderes do MTST estão orientando as pessoas ainda a não ligar as luzes em fiações clandestinas, por causa do risco de incêndio. Boulos também está incentivando as famílias a compartilhar notícias e fotos da ocupação nas redes sociais.
Ocupação.
As famílias começaram a chegar ao local no sábado em 17 ônibus, 50 carros e motos. Segundo a Polícia Militar, não houve confronto.
O grupo de sem-teto que ocupa a área é formado por moradores de áreas de risco e favelas. Ontem, dezenas de carros de cidades como Poá e Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, estavam no local, com lonas e pedaços de madeira no porta-malas. Alguns tiravam bambus de uma mata ao lado do terreno invadido para montar as tendas.
Muitos dos sem-teto são jovens de 18 a 21 anos. Um deles é o ajudante de pedreiro Rafael Gomes Machado, de 18. Recém-casado e pai de uma menina de 3 meses, Machado, que mora com os pais em Ferraz de Vasconcelos, participava de sua terceira invasão em busca de uma casa própria - as outras duas passaram por reintegração de posse. "Desta vez espero conseguir ficar e que eles construam um conjunto do Minha Casa Minha Vida", diz o ajudante de pedreiro.
Em alta.
Desde o ano passado, a cidade de São Paulo registra um aumento no número de invasões de imóveis por sem-teto. Só em 2013 foram 90 ocupações. A tática dos movimentos de moradia tem sido forçar o governo municipal a declarar essas áreas como de interesse social, para que sejam construídas habitações populares. No seu primeiro ano de governo, o prefeito Fernando Haddad (PT) fez 81 decretos desse tipo.
O
Estado
mostrou ontem que, no primeiro trimestre deste ano, o número de novas ações sobre conflitos de posse triplicou em relação ao mesmo período de 2012, de 3.289 para 10.102. Isso inclui desde os sem-teto que desejam adquirir uma residência por usucapião a proprietários que pedem liminares para recuperar seus terrenos.
O Tribunal de Justiça de São Paulo estuda até criar varas e câmaras especializadas em julgamento de conflitos fundiários, principalmente os urbanos.
/ COLABORARAM RAFAEL ITALIANI e LUCIANO BOTTINI FILHO