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Sem obras, Biblioteca Nacional corre risco

Problemas estruturais ameaçam acervo de instituição criada por d. João VI no Rio de Janeiro

Por Roberta Pennafort
Atualização:

"É um prédio de cem anos sem manutenção. Trabalho desde 1982 e nunca vi obra estrutural, só estética, e no início dos anos 1990", conta o chefe da Divisão de Obras Gerais, Rutonio Sant’Anna, que presidiu a associação de servidores por seis mandatos. "Estantes de metal dão choque. É tudo cheio de gambiarra, benjamim, muito perigoso. Acima de tudo, está a vida das pessoas e o patrimônio do País."

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Criada há 200 anos por d. João VI com parte do acervo da família real trazido de Portugal, a instituição, muito procurada por estudantes e pesquisadores, recebe cópias de todos os jornais e livros publicados no Brasil (são 100 mil volumes por ano).

"Não temos espaço para mais nada. Enquanto a hemeroteca, no Porto, não recebe os periódicos, fica tudo encaixotado. Armazéns de obras gerais e raras são insalubres, faz 50°C lá", diz o atual presidente da associação, Otávio Alexandre de Oliveira, que se inquieta ainda com o peso sobre as fundações. "Depois que prédios da Avenida 13 de Maio desabaram (em janeiro, matando 22 pessoas), nos preocupamos mais. O prédio foi projetado para guardar só 800 mil volumes."

Em protesto há uma semana, funcionários reiteraram pedido feito em março de "providências urgentes para problemas que vêm de décadas", como a precariedade na segurança (catracas não funcionam e controle é feito por funcionários), a falta de acondicionamento do acervo e a ameaça de cupins e traças.

O ofício foi mandado pouco antes do vazamento que começou no 6.º andar e foi descendo, molhando milhares de periódicos - eles só não se perderam porque a secagem foi ágil. Desde então, o ar foi desligado, para desconforto de frequentadores, e as janelas, abertas para a supermovimentada Avenida Rio Branco. Após um pedaço da fachada despencar na calçada, foi colocado um tapume.

Crises. Os problemas já eram conhecidos pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, que assumiu há 1,5 ano e começou a levantar os pontos críticos. "Não negamos nenhum deles. Começamos a diagnosticar as condições do prédio e, no meio do caminho, crises foram aparecendo", diz Loana Maria, sua diretora executiva.

Segundo ela, as últimas revisões elétrica e hidráulica foram há 30 anos. A falta de recursos do Ministério da Cultura é um entrave. "Temos previsão de obras para dez anos. Só o projeto para a reforma elétrica leva seis meses para ficar pronto. A gente queria uma obra como a do Teatro Municipal (em frente, centenário e todo reformado por 1,5 ano)."

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A prioridade na BN foi a instalação do sistema de detecção de incêndio, ligado neste mês. Parte do ar-condicionado deverá será recuperada em 90 dias. Substituição completa, ao custo de R$ 1,5 milhão, só ano que vem: a previsão é de que o edital de contratação saia até o fim do ano. A lista de projetos tem 15 itens.

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