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Sem deputados, ato reúne familiares de vítimas na Assembléia

Cerca de 60 familiares das vítimas do acidente com Airbus da TAM participaram da cerimônia ecumênica

Foto do author Gilberto Amendola
Por Gilberto Amendola e do Jornal da Tarde
Atualização:

Pelo menos dois atos ecumênicos reuniram familiares e amigos das vítimas do acidente com o Airbus A320 da TAM, que explodiu no dia 17 de julho, em frente ao aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo.   Uma das cerimônias reuniu 100 pessoas na Assembléia Legislativa de São Paulo, nesta segunda-feira, 23. Durante ato, organizado pela TAM, religiosos falaram palavras de conforto aos familiares das vítimas.   O ato reuniu representantes de diversas religiões e cerca de 60 familiares de vítimas. Os parentes das vítimas voltaram a criticar a lentidão no processo de identificação das vítimas e reivindicam enterrar os familiares que morreram com a queda do avião.   Embora o ato tenha acontecido na Assembléia Legislativa de São Paulo, a cerimônia não foi marcada pela presença de políticos - não havia nenhum deputado no local.   Mais cedo, cerca de 150 pessoas participaram de outro ato ecumênico de solidariedade às famílias e de homenagem às vítimas do vôo 3054 da TAM, nesta segunda-feira, 23, na catedral metropolitana de Porto Alegre. Representantes das comunidades católica, luterana, muçulmana, budista e bahái leram mensagens de conforto a todos os atingidos pela tragédia.   Um representante dos familiares das vítimas, Luiz Moysés, pediu ao prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), e à governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB) que pressionem o Instituo Médico Legal (IML) de São Paulo para acelerar a identificação dos corpos. Fogaça prometeu telefonar para autoridades paulistas. Yeda lembrou que o Estado está coletando dados para auxiliar os legistas do IML de São Paulo.   Final de semana de orações   O primeiro fim de semana após o acidente com o vôo 3054 da TAM no Aeroporto de Congonhas, que explodiu na terça-feira, 17, com 196 pessoas a bordo, foi marcado por despedidas e manifestações em aeroportos do País contra a "demora" para o reconhecimento dos corpos das vítimas. Peritos do Instituto Médico Legal (IML) identificaram até o fim da tarde de domingo 61 corpos.   A maior manifestação foi registrada no domingo no saguão do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Cerca de 100 familiares e amigos de pelo menos quatro vítimas do vôo 3054 se reuniram para cobrar agilidade dos responsáveis pelo reconhecimento dos corpos que estão no IML de São Paulo e denunciar o que qualificam como "descaso das autoridades e da TAM" diante da tragédia.   Insatisfeitos com a demora para o reconhecimento dos corpos, os manifestantes acusaram o IML de priorizar a identificação das pessoas mais conhecidas, de não aceitar ajuda de legistas de fora de São Paulo e nem admitir que médicos e dentistas pessoais das vítimas possam auxiliar na identificação. O IML disse que as acusações são "sem fundamento".   Vestidos de preto, os manifestantes sentaram-se ao chão, em duas fileiras, com corredor do meio, como se estivessem dentro de um avião, diante da loja da TAM. Ao fundo, uma faixa pedia "Justiça urgente, precisamos dar um final digno para as centenas de vítimas da incompetência e do descaso" e outra ironizava a situação com a frase "Parabéns Anac pela maior tragédia da aviação brasileira".   Em São Paulo, familiares das vítimas fizeram um protesto no Aeroporto de Congonhas e no local da queda do avião da companhia também no domingo. De mãos dadas, em frente ao guichê da TAM, os parentes das vítimas rezaram um Pai Nosso e fizeram apelos para que a identificação dos corpos seja feita com maior agilidade. O grupo parou o trânsito da Avenida Washington Luís por cinco minutos para chamar a atenção para a urgência de uma solução para a crise aérea.   Luto e despedidas     Momentos de emoção intensa marcaram a missa, na Catedral da Sé, pelas vítimas do vôo 3054 da TAM. Realizada pelo arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, a celebração teve início com a leitura da lista de pessoas a bordo do avião - e que foi interrompida, diversas vezes, por aplausos. A mãe de uma das vítimas chegou a passar mal e teve de ser retirada da igreja.   A missa foi acompanhada por cerca de 3.000 pessoas - além de parentes das vítimas, compareceram autoridades como o prefeito Gilberto Kassab e o secretário de segurança Pública do Estado, Ronaldo Marzagão, e pessoas vindas de toda a Grande São Paulo, que buscavam prestar solidariedade aos familiares.   Parentes pediram pela liberação dos corpos das vítimas e cobraram respostas. "Eles não imaginam sequer a nossa dor", disse Malú Gualberto, esposa de Antônio Gualberto, funcionário da TAM Express, que faleceu no acidente, à jornalistas. "Eu eximo a TAM de qualquer coisa".   Protesto silencioso   A morte das aposentadas e pensionistas, todas com idades superiores a 70 anos, chamou a atenção do País para o grupo que ficou conhecido como Tricoteiras dos Precatórios, do qual elas faziam parte. Desde o ano passado, cerca de 20 credoras de direitos já reconhecidos pela Justiça e ainda não pagos pelo governo do Rio Grande do Sul se reuniam diante do Palácio Piratini para tecer uma manta preta. O protesto era silencioso, mas iria mostrar a paciência infinita que os credores do Estado têm que ter para receber seus direitos.   A manta chegou a 200 metros e foi levada a São Paulo, onde seria exibida na quarta-feira, quando o grupo participaria do lançamento do Movimento Nacional Contra o Calote Público na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).   "Minha mãe bolou esse protesto inspirada na paciência de Rapunzel para esperar crescer o cabelo", explicou Carlos Camargo, filho único de Júlia de Oliveira Camargo, de 79 anos, durante o velório da mãe, no Cemitério João XXIII, em Porto Alegre. "Ela se tornou conhecida pelo carisma e liderança", comentou.   Adeus a pastor   Mais de dois mil evangélicos reuniram-se na manhã de sábado na única igreja Assembléia de Deus da cidade de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, para a despedida do pastor Luiz Antônio Rodrigues da Luz, de 43 anos, uma das vítimas do acidente com o vôo 3054 da TAM.   No culto realizado antes do enterro, o que mais foi lembrado pelos oradores que se revezaram ao microfone, foi "a visão" que Luiz Antônio diz ter tido em abril deste ano, ao "encontrar-se com Deus". O fato foi narrado pelo próprio Luiz Antônio em um congresso dos "gedeões missionários" na cidade de Camboriú, em Santa Catarina, ainda em abril.   Segundo um soldado da Polícia Militar, mais de mil pessoas, distribuídas em cinco ônibus e dezenas de carros, acompanharam o cortejo que, ao meio-dia de ontem, deixou Ivoti com direção a Guaíba, cidade na qual o caixão com o corpo do pastor ingressou em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros.   O corpo de João Roberto Brito, de 45 anos, uma das vítimas do vôo 3054, era velado na tarde deste sábado, 21, no Solar dos Câmara, prédio anexo à Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Brito era diretor regional do SBT e morreu no acidente com o Airbus da TAM, que se chocou, no começo da noite de terça-feira, 17, com um prédio da empresa, no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo.   (Colaborou Older Ogliari, do Estadão)

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