Seca leva prejuízo para comerciantes da região de Paraibuna

Dono de pesqueiro perdeu clientes e viu movimento diminuir depois que nível começou a baixar; donos de embarcações temem troncos

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Por Rafael Italiani
Atualização:

SÃO PAULO - Com capacidade total de 2,1 trilhões de litros de água, quase duas vezes maior do que o Sistema Cantareira, a Represa Paraibuna vive uma das maiores estiagens da história. Nesta sexta-feira, 21, o manancial estava com 74 bilhões de litros de água do volume útil (sem contar os 162 bilhões de litros do volume morto), segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA).

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Na cidade de Paraibuna, comerciantes perdem cada vez mais clientes. Benedito Marcos Farias Soares, de 60 anos, dono de um pesqueiro, diz que o movimento caiu 40%. "Antes, as crianças brincavam no balanço molhando o pé na água. Agora, a represa desceu mais de 20 metros e chegou a uma parte que eu nunca tinha visto", afirmou, apontando para as árvores que apareceram.

"As pessoas pescavam, passeavam de barco e jet ski. Agora, com esse monte de tronco aparecendo, elas ficam com medo." O pesqueiro do comerciante era dividido pela água da Represa Paraibuna. Para chegar do lado oposto de onde fica o restaurante era necessário usar um barco. Hoje, o caminho é feito sem molhar os pés.

O mesmo prejuízo por falta de movimento vive uma marina da região. Conforme a água foi baixando, os clientes retiraram os barcos. Na terça-feira, um empresário de São Paulo teve de recolher sua lancha.

"Aqui é muito bonito, vou sentir falta da represa, mas a água está cada vez mais baixa. Corre o risco de eu bater em alguma árvore e causar um acidente", disse Sebastião de Oliveira, de 59 anos. A embarcação foi levada para Itanhaém, no litoral.

"Já tirei o jet ski depois que ele quebrou três vezes por causa das árvores que enroscaram. Não dá mais para ficar aqui. Infelizmente, está insustentável", afirmou o empresário.

Manancial também divide água com hidrelétricas. Não é só a severa estiagem que prejudica o nível dos reservatórios. A geração de energia com a água da Represa Paraibuna e com o restante da Bacia do Rio Paraíba do Sul deixa a crise hídrica ainda mais problemática na região do Vale do Paraíba, no interior paulista.

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De acordo com Malu Ribeiro, coordenadora da Rede Água da SOS Mata Atlântica e especialista em recursos hídricos, a seca da Paraibuna também é responsabilidade do setor hidroelétrico. “O setor sempre mandou na questão da água. Existem reservatórios grandes, mas que não são de usos múltiplos, como é o caso da Represa Paraibuna. A única saída para resolver isso são planos estratégicos de bacias hidrográficas”, afirma.

Segundo ela, a falta de opções para gerar energia é um problema nacional, o que deixa o País dependente das águas dos reservatórios que poderiam ser economizadas nas secas. 

Sobre o estudo do governo do Estado de criar um volume morto de 162 bilhões de litros de água para atender o Rio, ela concorda com o uso da reserva em estiagens, desde que o governo tenha planos de como usar o recurso.

“Está se correndo atrás de todas as águas que restam. O que a sociedade civil quer é que haja um plano maior que detalhe os próximos passos sobre o uso do volume morto e as medidas que serão tomadas para encher novamente os reservatórios”, afirma.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de 11 milhões de pessoas dependem da água da Bacia do Rio Paraíba do Sul. A bacia atende cidades do Vale do Paraíba, mas a maior parte dos consumidores está no Estado do Rio.

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