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Haddad: 'Se não há nada mais importante, vamos investigar o trote'

Promotor instaurou inquérito para apurar divulgação de agenda falsa pelo prefeito de São Paulo para enganar comentarista de rádio

Por Juliana Diógenes
Atualização:

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta sexta-feira, 20, que "quem tem de julgar a melhor maneira de usar o tempo" é o promotor de Justiça responsável pelo inquérito para apurar suposta improbidade administrativa no caso do "trote" da agenda falsa. 

Haddad disse ainda que estuda processar o alvo da pegadinha, o comentarista da Rádio Jovem Pan Marco Antonio Villa, por calúnia e ofensa à honra. "Chamar uma pessoa que chega às 8 horas e sai às 20 horas todo dia de vagabundo, na minha opinião, é isso que deveria estar sendo investigado."

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Nesta quinta-feira, 19, o promotor Nelson Luís Sampaio Andrade, do Patrimônio Público e Social da capital, instaurou um inquérito para apurar suposta ofensa aos princípios da publicidade, transparência, impessoalidade, moralidade e interesse público para fazer a pegadinha com Villa.

"Quem tem que julgar a melhor maneira de usar o seu tempo é o promotor. Se ele acha que a melhor maneira de usar o seu tempo é abrindo inquérito dessa natureza, ele tem autonomia para isso. Se não há nada mais importante para investigar, vamos investigar o trote", disse o prefeito.

Questionado se está arrependido após o "trote", Haddad não respondeu. Ele disse que é ofendido na honra "diuturnamente" por Villa e que chegou a se colocar à disposição da Rádio Jovem Pan para detalhar todos os compromissos diários.

"Os dados foram disponibilizados para a rádio do meu horário de chegada e do meu horário de saída todos os dias. Então, ofensa não é crítica, calúnia não é crítica. A crítica eu aceito de todos vocês, todos os dias. Agora, isso não é crítica, é ofensa", afirmou.

Ao Estado, Villa disse que desconhece qualquer contato da Prefeitura na direção da Rádio. "A mim, ele não procurou. Não me parece calúnia a constatação a de que ele chega muito tarde. O que faço é uma mera constatação do que está na agenda. Mas se ele não trabalha, a culpa não é minha, é dele", afirmou o comentarista.

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Sobre a declaração de Haddad, que disse ter sido chamado de "vagabundo", Villa desconversou. "Não sei (se chamei), não sei. Ele trabalha muito pouco. Vagabundo, no sentido do dicionário, precisa constatar aí... É só olhar o Houaiss. Vagabundo é aquele que se dedica pouco ao trabalho. Ele é uma pessoa que se dedica muito pouco."

Entenda o caso. A gestão municipal divulgou a agenda de Haddad por volta das 17 horas do domingo, 15, informando que, a partir das 8h30 de segunda-feira, 16, o prefeito faria "despachos internos". A agenda com um só compromisso foi propositalmente falsa, conforme declarou o próprio prefeito em sua página oficial no Facebook.

Na postagem, com o título Trote num pseudointelectual, Haddad diz que Villa tem comentado as agendas públicas "com o conhecimento de quem nunca administrou um boteco". "Mas, hoje, para que os ouvintes tenham uma pálida ideia deste embuste, resolvemos substituir, por algumas horas, a minha agenda pela de outro político, apenas para vê-lo comentar, uma vez na vida, o dia a dia de quem ele lambe as botas", explicou o prefeito.

Villa é comentarista de um programa jornalístico na rádio entre 7h30 e 10 horas. Haddad esperou que o jornalista criticasse a agenda para só então divulgar os compromissos verdadeiros do dia. A publicação de Haddad foi feita por volta das 13 horas desta segunda-feira, uma hora após a Prefeitura divulgar a agenda correta.

A reportagem apurou que, embora não tenha nominado no post, o político ao qual Haddad se referiu é o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que no dia 5 publicou agenda em que também informava somente "despachos internos". 

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