São Paulo receberá 100 venezuelanos vindos de Roraima nesta quinta

Prefeitura abrigará somente adultos solteiros em dois Centros Temporários de Acolhida (CTA) exclusivos para os imigrantes em São Mateus, zona leste, e Santo Amaro, zona sul

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Por Juliana Diógenes
Atualização:

Desembarcam nesta quinta-feira na capital paulista os cem primeiros imigrantes venezuelanos trazidos de Roraima por meio de um acordo entre o governo federal e a Prefeitura de São Paulo. Eles sairão de Boa Vista em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e ficarão acomodados em dois Centros Temporários de Acolhida (CTAs) - em Santo Amaro (zona sul) e São Mateus (zona leste) - oferecidos pela administração municipal.

Ao todo, são esperados 300 venezuelanos. As datas de chegada dos próximos dois grupos de cem pessoas estão sendo definidas pela Casa Civil e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A expectativa da gestão municipal é de que o grupo seguinte chegue em até 30 dias e o terceiro, na sequência.

O pintor venezuelano Jose Ojeda, de 52 anos, segura placa em farol de Boa Vista com pedido de emprego; com fluxo de imigrantes para Roraima, denúncias de exploração do trabalho também cresceram Foto: AFP PHOTO / MAURO PIMENTEL

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A Prefeitura de São Paulo, que inicialmente iria acolher os venezuelanos em abrigos de moradores em situação de rua, desistiu e decidiu hospedá-los em CTAs exclusivos para o público refugiado. “Nesse primeiro momento, entendemos que é melhor, após conversas com a Acnur, uma situação de receber exclusivamente venezuelanos (nos CTAs)”, diz o secretário municipal de Assistência Social, Filipe Sabará. De acordo com ele, uma recomendação da ONU orienta que refugiados sejam acolhidos separadamente de outros públicos. 

Para recebê-los, a Prefeitura realocou moradores em situação de rua que estavam nos CTAs para outros centros próximos. Sabará não soube dizer o número de moradores removidos dos dois locais.+ Criança venezuelana com sarampo morre em Boa Vista

Três semanas atrás, em conversa com o Estado, o secretário havia dito que os venezuelanos ficariam abrigados com as pessoas em situação de rua. “Os CTAs são equipamentos de altíssima qualidade, não são mais albergues horríveis. É o que temos de melhor para oferecer além dos centros especializados de imigrantes.” Questionado sobre a mudança, ele diz que, na ocasião, “as conversas estavam bem preliminares”.  Segundo o secretário, o critério de escolha dos dois centros foi a proximidade com empresas de potencial empregatício. Dos 17 CTAs na cidade, Sabará disse que nove estão aptos a receber venezuelanos. No CTA Santo Amaro, serão recebidos homens e mulheres. Já no CTA São Mateus, somente homens.

Perfil

Segundo a Casa Civil, São Paulo aceitou receber dois perfis de imigrantes: homens jovens solteiros com escolaridade a partir do ensino médio, em função de melhores condições de empregabilidade, e famílias.

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Sabará diz que mais de 20 empresas já apresentaram propostas de entrevistas para os venezuelanos, entre elas escolas de idiomas e companhias de tecnologia, construção e automobilística. Segundo o secretário, representantes da Câmara de Comércio Brasil-Espanha se dispuseram a intermediar com empresas de língua espanhola o envio de currículos. 

A escolha dos refugiados encaminhados para São Paulo foi feita pela Acnur, que coletou nos abrigos em Roraima informações dos imigrantes que tinham interesse em se mudar e trabalhar no Brasil. Desde 2015, 38,4 mil venezuelanos já entraram no País, fugindo da crise econômica e política que atinge a Venezuela. O número inclui estrangeiros que usaram o território brasileiro apenas como passagem para outras nações.+ Quatro Estados se preparam para receber imigrantes venezuelanos

Embora o acordo entre o governo federal e a Prefeitura de São Paulo para o recebimento de venezuelanos tenha sido anunciado em fevereiro, o primeiro grupo só está sendo encaminhado à cidade nesta semana porque o governo de Roraima e o Ministério da Saúde decidiram realizar ações de vacinação nesse público antes de encaminhá-lo para outras localidades. 

Com a crise no país vizinho, surtos de doença como sarampo e difteria estão se espalhando pela Venezuela. Com a chegada de imigrantes que não haviam sido imunizados, o Brasil registrou em fevereiro o primeiro caso de sarampo em quase três anos. Agora, já são 42 registros (8 em brasileiros e 34 em venezuelanos) e duas mortes confirmadas em Roraima. + Mais de 1 milhão de venezuelanos já deixaram o país, aponta relatório da ONU

Uma campanha de vacinação contra a doença foi iniciada no Estado em 10 de março e já vacinou 35 mil pessoas. A meta é imunizar 400 mil.

Crise

Além de São Paulo, o governo federal anunciou em fevereiro que os imigrantes seriam distribuídos também no Amazonas, Paraná e Mato Grosso do Sul. O Brasil é o segundo principal destino da diáspora venezuelana, provocada pelo agravamento da escassez de remédio e alimentos no país, afetado por uma hiperinflação que neste ano deve chegar a 13.000%. 

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A chegada de mais de 40 mil imigrantes venezuelanos - que fogem da crise política e econômica no País - a Roraima tem aumentado a tensão no Estado, que faz fronteira com a Venezuela. Com a chegada maciça de refugiados venezuelanos ao norte do Brasil, os relatos de casos de exploração do trabalho aumentaram quase na mesma proporção.

Relatórios de instâncias internacionais revelaram recentemente casos de assédio e violência sexual no local de trabalho, violência física e verbal, condições de trabalho análogas à escravidão, exploração sexual e evidências de tráfico humano sofridos pelos venezuelanos no Brasil.

Uma criança indígena venezuelana chora em um abrigo na cidade de Boa Vista, em Roraima. Segundo as autoridades locais, cerca de mil refugiados estão atravessando a fronteira brasileira todos os dias. Foto: Mauro Pimentel / AFP Foto:

Há dez dias, um grupo de 300 brasileiros expulsou de um abrigo improvisado em Boa Vista cerca de 200 venezuelanos - entre eles, mulheres e crianças. A confusão ocorreu depois que uma briga, no domingo, deixou um brasileiro e um venezuelano mortos no município de Mucajaí, a 50 quilômetros da capital de Roraima.

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