21 de novembro de 2011 | 03h03
A autoridade policial não teve dúvida: prendeu-o. Foi processado por homicídio, sentenciando-o o juiz ao que era, de fato, prisão perpétua, dando-lhe por menagem a velha catedral de São Paulo. A lei punha fim à sua figuração pública. Servia de pretexto a sentimentos anticlericais e republicanos que se difundiam na época. É que São Jorge fora patrono da monarquia portuguesa e permanecera entre nós, infiltrado, como patrono da monarquia brasileira que, no fundo era a mesma. Exibia nas procissões mais do que a santidade que um papa, mais tarde, diria não ter, o lusitanismo que representava. Muitos patriotas achavam que tanto São Jorge quando Dom Pedro II nada mais eram do que sobrevivências da dominação portuguesa.
Quem pagou foi o santo. Ao confiná-lo na igreja da Sé, confinavam a Igreja, começando a bani-la das ruas para afirmar que a rua era pública, mas não tanto, e que poder havia um só, o da lei. Santo homicida era tão criminoso quanto qualquer mortal que eventualmente tirasse a vida alheia, mesmo por acidente. Quando a catedral velha foi demolida para alargamento da Praça da Sé e construção da nova catedral, São Jorge, com outros belos objetos de arte sacra, foi removido para a Cúria, onde, nos anos 1950, o conheci, resignado em seu confinamento. Acabou no Museu de Arte Sacra, em boa hora para lá mandado por Dom Paulo Evaristo Arns, quando cedeu ao governo do Estado o precioso acervo de arte das velhas igrejas de São Paulo. Acervo reunido e salvo por Dom Duarte Leopoldo e Silva, nosso primeiro arcebispo, alarmado com a iconoclastia dos padres da Romanização, que combatiam o catolicismo culturalmente brasileiro e caipira que nos vinha de tempos antigos.
O preso recebe visitas...
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.