Santa Casa quer saída de sem-teto de imóvel

Serviço médico já teve de ser paralisado; reintegração na Martins Fontes depende só da Justiça, e moradores dizem que não têm para onde ir

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Por Paulo Saldaña
Atualização:

Vizinhos de uma ocupação na Rua Martins Fontes, no centro de São Paulo, aguardam ação de reintegração de posse - já decidida pela Justiça - para a desocupação do local. O prédio, ao lado de um ambulatório gerido pela Santa Casa de Misericórdia, foi invadido por sem-teto há pelo menos um ano e meio e há reclamações de mau cheiro, proliferação de insetos e insegurança. O atendimento do centro médico chega a ser prejudicado. Mas as famílias reclamam que reforçaram os cuidados com a higiene e não têm para onde ir. As queixas em torno da ocupação já existem há pelo menos quatro anos. O prédio é de 1940 e pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Fica no mesmo terreno do ambulatório, inaugurado em 2005. Abandonado há pelo menos seis anos, já abrigava moradores e mendigos desde 2007.Em setembro de 2009, a direção da Santa Casa resolveu, por conta própria, fechar com tapumes toda a volta do imóvel, como forma de reduzir os incômodos que o espaço causava aos pacientes e aos funcionários da instituição. A sujeira atraía a presença de pragas, como ratos e baratas, explica o provedor da entidade Kalil Rocha Abdalla. A ação não resolveu o problema. "O INSS entrou com ação de reintegração de posse contra nós, e tive de tirar os tapumes. Logo depois, ocuparam de novo."A ocupação tem levado transtornos ao atendimento do laboratório, que faz cerca de mil consultas por dia. "Há dias com odor muito forte e a presença de moscas e insetos", afirma a diretora técnica Maria Dulce Cardenuto. Em março, consultas e exames tiveram de ser desmarcados por causa da invasão de insetos.O comerciante Pedro Vieira Paulo, de 41 anos, é dono de um bar na mesma calçada da ocupação e também tem reclamações. "À noite eu tenho medo, fica uma bagunça na rua. O poder público tinha de resolver ou pelo menos limpar o local para as pessoas morarem de verdade."De acordo com os ocupantes do prédio, há 62 famílias nos cinco andares do edifício. Pelos corredores e na portaria, observam-se muitas crianças, idosos e também cadeirantes. O catador Sílvio César, de 39 anos, um dos primeiros ocupantes fixos, disse que todos têm se mobilizado para tratar a questão da higiene e da limpeza. Segundo César, eles lavam o prédio duas vezes por semana.De fato, a reportagem entrou no prédio e constatou que, pelo menos na quarta-feira, só havia mau cheiro na calçada; a parte interna do edifício estava limpa. As moradias são divididas por pedaços de madeira. Há dois banheiros em cada andar, compartilhados por todos. Até o começo do ano, não havia água. Mas agora os moradores conseguiram puxar da rua, assim como fizeram recentemente com a luz - que só acende às 17h30, com a iluminação pública. "Na hora que acende, a criança grita que parece presente de Natal", afirma a diarista Monica Oliveira, de 33 anos. Ela reclama que não tem para onde ir com os oito filhos, que têm idades entre 1 e 17 anos. "O problema é que quem critica nunca veio aqui ver como estamos nos organizando." Data. A Justiça expediu em março despacho de reintegração de posse e o prédio deveria ter sido esvaziado até abril. Segundo o INSS, a Justiça está analisando a melhor data, em conjunto com a Polícia Militar, para fazer a reintegração de posse.

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