PUBLICIDADE

Sai o síndico e entra o pensador

Kassab foi às ruas e atacou em várias áreas; já Haddad tentará tirar seus planos do papel

Por Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta
Atualização:

Na segunda metade dos anos 1990, o são-paulino Fernando Haddad autorizou que um primo corintiano levasse seu filho, Frederico, para assistir aos jogos do time alvinegro. A inocente criança ficou empolgada com a animação da torcida do Corinthians e acabou aderindo aos rivais, apesar de morar em residência tricolor. “Minha casa sempre foi muito democrática”, explicava durante a campanha o prefeito Fernando Haddad, a respeito da opção do filho.

PUBLICIDADE

Na Prefeitura, a boa convivência com políticos que rezam diferentes credos também é um dos trunfos do novo chefe do executivo paulistano. Logo que venceu a eleição, Haddad ligou para líderes que apoiaram seu opositor José Serra, como o deputado petebista Campos Machado, convidando-os a colaborar com sua gestão. Esse jogo de cintura deve permitir ao prefeito iniciar a administração com base ampla no Legislativo, incluindo o PSD, partido de seu antecessor Gilberto Kassab, e de outros seis que apoiam Geraldo Alckmin no governo do Estado.

Tanto para o prefeito que entra como para o que sai, na hora de fazer a costura política e garantir maioria, parece não existir esquerda, direita e centro. A diferença é que Kassab assumiu pessoalmente a linha de frente das negociações políticas. Eram cafés-da-manhã com vereadores, encontros com líderes comunitários, lançamentos de livros, sem falar nas horas de folga e fins de semana, quando recebia uma romaria de políticos em seu apartamento, de vereadores a líderes nacionais.

Já Haddad é ainda um neófito nessa seara. Para fazer o meio de campo com os políticos, três petistas com larga experiência no Legislativo vão ajudá-lo a desempenhar a tarefa: João Antônio, secretário de Relações Institucionais; Antonio Donato, secretário de Governo (uma espécie de Casa Civil); e José Américo, que será o presidente da Câmara Municipal.

Se fosse para comparar estilos, o gosto pelo corpo a corpo de Kassab estaria mais parecido com o de Lula. Já Haddad e sua queda em se envolver com assuntos mais ligados ao dia a dia da gestão, com o de Dilma.

Tanto que Kassab geria a cidade da rua, em agendas externas. Haddad já firmou que pretende ficar mais tempo na Prefeitura, onde seu trabalho renderá mais. “Sobre seu desempenho na política, descobriremos agora”, pondera o futuro secretário de Comunicação, Nunzio Briguglio Filho, que assessora Haddad há seis anos. “Como gestor, é uma pessoa que chega às 8h para trabalhar com todos os jornais lidos e não sai antes de acabar o Jornal Nacional. Ouve bastante, mas cobra desempenho.”

Engenheiro x Filósofo

Publicidade

A formação acadêmica também parece influenciar na diferença de estilos. Haddad, bacharel em Direito, com pós-graduação em Economia e Filosofia, já assume o cargo com um discurso grandioso, que busca apontar um novo rumo para São Paulo. Segundo acredita o novo prefeito, caso o plano seja executado, pode reestruturar a ocupação urbana da cidade.

A maioria no Legislativo garantiria a Haddad já no primeiro ano de mandato a aprovação de um novo Plano Diretor, a mudança do zoneamento, do Código de Obras e a criação de operações urbanas estratégicas para mover o eixo de crescimento paulistano. A aposta principal é a Operação Lapa-Brás, ferramenta urbanística que seria capaz de adensar as esvaziadas região central e oeste. Com a operação, o prefeito pretende tornar a Marginal e o Rio Tietê o principal eixo de desenvolvimento de São Paulo.

O engenheiro e economista Kassab desempenhou mais o papel de desatador de nós. Como um síndico atento da maior cidade do Hemisfério Sul, atacou em diferentes áreas para diminuir déficits existentes e alcançar metas prometidas em campanhas, sem nunca revelar a pretensão de apontar um novo norte para São Paulo. Pai do Cidade Limpa na primeira gestão, no segundo mandato o prefeito urbanizou favelas, diminui déficits de vagas em escolas e creches, reorganizou a rede de saúde, criou as ciclofaixas, mas não se destacou nem se tornou um divisor de águas em nenhuma dessas áreas.

PUBLICIDADE

Sai principalmente com a façanha de ter criado o terceiro maior partido político do Brasil, sem deixar inimigos em sua trajetória. Apesar do baixo índice de aprovação popular, se mantém como carta decisiva para o jogo político de 2014. “A liderança do Kassab é suave e positiva. Por isso, ele consegue amplo apoio e adesão, tanto dos secretários como de políticos que estão com ele”, analisa o secretário de Serviços que deixa a Prefeitura, Dráusio Barreto.

A mesma importância no tabuleiro político nacional é esperada do prefeito que entra. A capacidade de transformar em realidade seus planos ambiciosos para a cidade é o que pode cacifar Haddad nas próximas eleições.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.