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Sabesp: obras anticrise são ‘ações de guerra’

Para novo presidente da companhia, projetos de transposição e do São Lourenço não resolvem situação, mas são ‘emergenciais’

Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - O futuro presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, disse que as obras anunciadas a médio prazo pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) para aumentar a oferta de água na Região Metropolitana não resolverão o problema neste ano, mas são “emergenciais” e devem ser tratadas como “ações de guerra”. Ele classificou a crise hídrica paulista como “preocupante”.

“Tanto a ligação das Represas Jaguari e Atibainha como o São Lourenço são obras que não resolvem a situação de 2015, mas são absolutamente emergenciais e têm de ser tratadas, na medida do possível, como ações de guerra. Precisamos cortar todos os atalhos que puderem ser utilizados para que elas sejam entregues no prazo mais curto possível”, disse Kelman, cujo nome deve ser confirmado neste mês pelo Conselho de Administração da Sabesp. 

Rapidez. 'Precisamos cortar todos os atalhos', diz Kelman Foto: ANDRÉ MOURÃO/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA

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O Sistema São Lourenço deve captar de 4,7 a 6,4 mi litros por segundo de água do Vale do Ribeira para abastecer cerca de 1,5 milhão de pessoas na Grande São Paulo. As obras, tocados pela iniciativa privada, com R$ 2,6 bilhões de financiamento público, começaram em abril passado e devem ser concluídas entre 2017 e 2018. 

Já a transposição de 5 mil litros por segundo da Represa Jaguari, na Bacia do Rio Paraíba do Sul, para a Atibainha, no Sistema Cantareira, foi anunciada em março passado por Alckmin e causou uma disputa pública com o governo do Rio, que depende exclusivamente do Rio Paraíba para abastecer a população e temia ser afetado pela medida. Após a eleição, os governantes dos dois Estados anunciaram um acordo e devem apresentar em fevereiro um projeto final para a transposição, orçado em R$ 830 milhões e com conclusão prevista para 2016.

Engenheiro carioca e professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Kelman chegou a criticar algumas atitudes do governo Alckmin na disputa pela água do Paraíba, como o descumprimento de uma determinação para aumentar a liberação de água da Represa Jaguari, em agosto. Em entrevista ao Estado, em novembro, ele classificou o anúncio da transposição como um improviso, que não era a melhor escolha porque os reservatórios têm o mesmo regime de chuvas e atravessam as piores secas de suas histórias.

Favorável. Nesta sexta-feira, 2, Kelman reiterou que sempre foi a favor do projeto, como já havia manifestado em entrevistas antes de ser anunciado presidente da Sabesp. “Muito antes de sonhar com a possibilidade de vir a ser presidente da Sabesp, isso nunca tinha me passado pela cabeça, já tinha me posicionado favorável à transposição do Jaguari para o Atibainha. Não é uma opinião de conveniência. Sempre defendi que a posição do Rio de Janeiro nesse debate não poderia ser de egoísmo, dizer aos paulistas ‘que se danem’ ou qualquer coisa assim”, afirmou.

Kelman disse que “dada a situação atual” da crise hídrica, a transposição de água para o Cantareira “é a melhor alternativa porque tem execução mais rápida”. Segundo ele, o projeto se tornará viável e benéfico para São Paulo e Rio, com algumas modificações nas regras de uso da água do Rio Paraíba que estão sendo elaboradas pela Agência Nacional de Águas (ANA), órgão que criou em 2001 e do qual foi presidente até 2004.

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“A ANA deve definir em breve o uso prioritário da água da Bacia do Rio Paraíba para o abastecimento das populações tanto do Rio quanto de São Paulo. Deve-se estabelecer uma vazão máxima em Santa Cecília, onde é feita a transposição de água para o Rio, permitindo guardar mais água nos reservatórios a montante. Haverá uma pequena perda de produção de energia que pode ser compensada com o aumento em outro local porque a rede brasileira é interligada”, afirmou Kelman.

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