Rota registra maior nº de mortes desde os ataques de 2006

Confrontos em 7 meses só ficam abaixo do ano dos ataques do PCC; julho foi o mês com mais mortes pela PM na capital em 3 anos

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Por Redação
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Nos sete primeiros meses de 2012, as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) se envolveram em ações violentas com uma intensidade que não era vista desde 2006, quando a população e as forças de segurança foram atacadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), causando uma reação da polícia que, segundo a Justiça, foi desproporcional. Nesse período, conforme levantamento exclusivo do Estado, ainda vale destacar o mês de julho, período em que policiais militares em serviço (incluindo a Rota) mais mataram na capital nos últimos três anos.Entre janeiro e julho de 2006, os confrontos com a Rota terminaram com 67 mortos, 7 a mais do que no mesmo período de 2012 - os números de agosto ainda não foram divulgados. Naquele ano, porém, os homicídios se concentraram em maio, mês dos ataques do PCC, quando 47 pessoas foram mortas por policiais do Batalhão de Choque.Depois disso, a Rota nunca matou tanto quanto agora. Em maio deste ano, o Batalhão de Choque deixou um rastro de 17 mortos, em casos classificados pela Corregedoria da PM como resistências. É o número mais elevado em um único mês desde agosto de 2006, quando foram registrados 18 homicídios dessa natureza - reflexo ainda dos ataques daquele ano.Foi também em maio deste ano que a Rota se envolveu no caso mais polêmico até esta semana. Os PMs disseram que, na tentativa de frustrar uma reunião sobre o resgate de um preso, entraram em confronto com integrantes do PCC em um lava-rápido na Penha, zona leste. Cinco suspeitos foram mortos. Outro integrante da facção foi levado até a Rodovia Ayrton Senna e assassinado. O caso veio à tona porque foi presenciado por uma testemunha. PM em geral. Outro dado que mostra um aumento na violência dos agentes públicos neste ano são os 29 homicídios registrados pela Polícia Militar em julho na capital, número superado nos 37 meses anteriores só por junho de 2009, com 35 mortes. Trata-se também do maior número de mortos para um mês de julho no Estado nos últimos dez anos, desde quando é possível a consulta eletrônica sobre letalidade policial no Diário Oficial.Apenas em julho, foram mortas pela PM 61 pessoas no Estado, mais do que o dobro do mesmo período do ano passado, quando foram 29. Trata-se também do mês de julho mais violento envolvendo a PM nos últimos dez anos - a média histórica é de 39 mortos em casos de resistência nesse mês. O mais próximo do que aconteceu neste ano foi em julho de 2003, o primeiro do levantamento, quando foram 52 homicídios."Quanto mais criminosos se mata, mais policiais serão mortos também. O correto é o policial voltar vivo para casa e o bandido ir para a cadeia", alerta o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, para quem a escalada de casos de resistência e a guerra entre PM e bandidos está relacionada ao rompimento recente de um acordo "tácito ou falado" para evitar agressões mútuas entre os dois lados, algo que ocorreu após os ataques do PCC em 2006. "Você não pode fazer acordo com criminoso, porque uma hora ou outra será descumprido."A PM matou nos sete primeiros meses deste ano 290 pessoas no Estado, um aumento de 6,6% em relação ao mesmo período do ano passado (272). Considerando só a capital, o crescimento foi de 25,2% (119 a 95, fora Rota), o que demonstra que a resposta violenta da polícia atinge principalmente a cidade de São Paulo.Resposta. A Polícia Militar afirma que as mortes em confronto são a exceção, e não a regra nesse trabalho. Segundo a PM, nos últimos 54 meses ocorreram 4.635 confrontos entre policiais e não policiais, envolvendo cerca de 12 mil criminosos. Desses, 63% dos confrontos armados não resultaram em nenhuma morte, 83% dos criminosos que participaram dos confrontos foram presos (feridos ou ilesos) ou fugiram e 17% morreram. "Em 2003, morria uma pessoa em confronto para cada 132,6 prisões. Em 2012, até julho, esta taxa ficou em um morto para cada 365,7 prisões", diz a PM.Sobre as críticas, a Secretaria de Segurança afirmou que respeita opiniões de especialistas "quando são lastreadas em critérios científicos e objetivos" e diz também que afirmar que a polícia tem acordo com o crime "beira à denunciação caluniosa". /W.C.

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