PUBLICIDADE

Rio terá os primeiros desfiles da ''era UPPs''

Um terço das escolas do Grupo Especial fica em morros pacificados pela polícia

Por Roberta Pennafort e Marcia Vieira
Atualização:

Quatro das 12 escolas de samba que desfilam hoje e amanhã no Grupo Especial do Rio vivem neste carnaval uma experiência inédita: o convívio com a nova realidade trazida a seus morros pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). As quatro ficam na zona norte - berço, como o centro da cidade, do samba carioca -, que concentra seis das 13 unidades instaladas pela PM. Com a expulsão dos traficantes armados de fuzis e o fim dos tiroteios, os componentes podem ir e vir dos ensaios sem medo e os diretores ficam livres da eventual ingerência dos bandidos nas quadras e até em setores da escola, como a bateria. O Morro do Borel, exaltado nos sambas da atual campeã, a Unidos da Tijuca, e o vizinho Salgueiro, que dá nome à escola, receberam UPPs há oito meses. O Morro dos Macacos, de onde sai boa parte dos integrantes da Vila Isabel, há quatro. O Complexo do Alemão, terra da Imperatriz Leopoldinense, está ocupado desde a guerra de novembro, que teve repercussão em todo o País. A UPP estará consolidada nos próximos meses. "Para a Imperatriz, o principal resultado foi na quadra: nos piores momentos de violência, a própria comunidade havia se afastado. E os moradores de comunidades próximas, dominadas por outras facções, também tinham receio de ir", conta um antigo frequentador, que ainda teme ser identificado. "Mais de uma vez amigos tiveram carro roubado na rua da quadra." A segurança no entorno do Alemão garantida pela pacificação aumentou o número de curiosos para os ensaios da Imperatriz. Mas não alterou a essência do carnaval da Verde e Branco. "O tráfico nunca interferiu na escola", garante um sambista que vai à quadra desde criança. Na Unidos da Tijuca, a quadra da subida do Borel não era usada desde 1992. Não só por conta do recrudescimento da violência, mas também por ser pequena. O braço social da escola, que oferece aulas de computação e presta atendimento dentário aos moradores do Borel, fica nessa quadra. Carlos Alberto Araújo, da diretoria da Tijuca, lembra momentos delicados. Traficantes "pediam" o galpão emprestado para fazer bailes funk. "Como é que eu ia impedir? Mas sempre houve respeito, nunca sumiu nada", ressalva. Hoje, a Tijuca tem quadra para 6 mil pessoas na zona portuária, longe do Borel. Criado no Borel, o mestre de bateria, Casagrande, garante que "o tráfico sempre soube respeitar a hierarquia do samba". Já Mestre Átila, que saiu do Império Serrano para a Vila Isabel em 2009, teve problemas na nova casa. Sua contratação não foi bem vista pelos traficantes dos Macacos, que preferiam o antecessor, Mestre Mug, cria da favela. A vontade da direção da escola se impôs e Átila continua no comando da bateria. No Salgueiro, como a quadra fica em outro bairro, a influência nunca foi sentida assim. Mangueira. A interferência do tráfico em uma escola de samba ficou evidente em 2008, quando o presidente da Mangueira, Percival Pires, foi flagrado em um vídeo homenageando o traficante Fernandinho Beira-Mar. Segundo a Polícia Federal, o Morro da Mangueira é um dos principais entrepostos de venda de droga de Beira-Mar. Logo depois, a polícia descobriu na quadra da escola passagem oculta para a favela. A suspeita era de que traficantes usavam o lugar para entrar na quadra e fugir da polícia. A Mangueira sempre negou. Mas o então presidente de bateria, Ivo Meirelles, acabou pedindo demissão. O episódio não impediu que Meirelles voltasse há dois anos. Atual presidente da Verde e Rosa, ele está longe de ser uma unanimidade na comunidade. Há duas semanas, Meirelles foi vaiado pelos mangueirenses ao dizer que o morro não precisava de obras do PAC, mas de uma quadra nova. A Mangueira deve receber uma UPP neste ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.