Rio terá 1ª filial no Brasil da famosa Cordon Bleu

Tradicional escola gastronômica francesa vai ganhar sede na zona sul carioca e terá vagas reservadas para alunos de baixa renda

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Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

Foi em volta da mesa, com um jantar preparado no Rio de Janeiro pelo chef francês Roland Villard, em outubro, que a mais antiga escola de gastronomia do mundo, Le Cordon Bleu, e o governo fluminense se aproximaram pela primeira vez. O encontro rendeu frutos e, no próximo mês, será firmada parceria para abertura da primeira filial brasileira da escola francesa. O local escolhido é um prédio público em Botafogo, na zona sul carioca. Como o espaço terá de passar por obras, a expectativa é que a primeira turma inicie as aulas no início do ano que vem e até o fim de 2012 saiam os primeiros formados brasileiros. Professores da sede em Paris e de outras filiais vão se transferir para o Rio para iniciar o curso, que seguirá o modelo da Cordon Bleu, com duração de nove meses e três módulos - básico, intermediário e superior - de cuisine (cozinha) e outros três de pâtisserie (confeitaria). Baixa renda. A negociação com o governo estadual fluminense inclui a reserva de pelo menos um quinto das vagas para alunos de baixa renda e formados em escolas públicas. "A Cordon Bleu vai formar e ao mesmo tempo valorizar a cultura local. A técnica francesa está em 80% das escolas do mundo. A partir dela, pode-se desenvolver qualquer técnica. E as aulas vão valorizar os produtos locais tradicionais", diz Roland Villard, chef do restaurante Le Pré Catelan.Villard atuou como consultor da escola francesa e aproximou o presidente da Cordon Bleu, André Cointreau, e o vice-presidente, Patrick Martin, do vice-governador, Luiz Fernando Pezão. O político fluminense é um apreciador eclético, que vai da comida de boteco aos pratos mais sofisticados. Detalhes como o número de estudantes e o preço dos cursos para os alunos particulares serão definidos até junho, quando Cointreau voltará ao Rio para formalizar a parceria com o governador Sérgio Cabral. A Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado não deu nenhuma informação sobre as negociações com os franceses nem sobre o investimento estadual na empreitada. Roland Villard acredita que o destaque do Rio com a Copa de 2014 e especialmente com os Jogos Olímpicos de 2016 foram pontos a favor da cidade na decisão de abrir uma filial carioca. O chef acredita que a nova escola poderá atrair alunos com alto poder aquisitivo, mas que não podem ou não querem deixar o País por quase um ano para o curso completo. Valores. Além de tradicional e conceituada, a Cordon Bleu é cara. O curso completo para obtenção do chamado "grand diplôme" ( grande diploma) chega a 35 mil (R$ 80,5 mil). Há ainda cursos que vão de poucas horas a até quatro dias, com preços que variam de 40 (R$ 92) a 900 (R$ 2.070). Em Paris, a maioria dos alunos do curso completo é de estrangeiros. "Poucos franceses fazem escolas privadas de gastronomia. Há muitos cursos públicos excelentes. Eu me formei há 20 anos em uma escola pública", conta Villard, que dará aulas de História da Gastronomia na Cordon Bleu do Rio. Formação. "Nove meses são suficientes para se ter o conhecimento avançado, mas isso não é tudo. Nenhuma escola no mundo forma chefe de cozinha. Forma cozinheiros", diz Villard. "Só na aplicação do aprendizado é que você, talvez, se torne um chef." Villard se diz encantado pela sensibilidade e criatividade do brasileiro. Mas faz uma ressalva. "A questão é que a gastronomia brasileira não saiu do Brasil, não ganhou o mundo, como a gastronomia mexicana, a italiana, a peruana, a libanesa. Acho que essa realidade pode mudar", ressalta.

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