Não foi uma guerra de São Paulo contra o resto do País - pecha forjada pelo revisionismo histórico. Na verdade, tropas de outros Estados, sob a liderança dos paulistas, também se voltaram em prol da Constituição em embates frente ao governo de Getúlio Vargas.
“A guerra constitucionalista de 1932, embora sustentada particularmente em São Paulo e pelos paulistas, também foi combatida em outros Estados nos extremos norte e sul, leste e oeste, no centro do País. Centenas de mortos e feridos em dezenas de combates tão ou mais desesperados e perdidos mesmo antes de seu começo do que os travados em solo bandeirante, dão testemunho de que o ideal da constitucionalização era reclamo nacional. E não obstinação ou desculpas de paulistas”, afirma Hernâni Donato em seu livro História da Revolução de 32.
O mesmo Donato, aliás, frisou isto alguns meses antes de morrer, em seu discurso de posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foi em 9 de julho de 2012, justamente quando a Revolução comemorava 80 anos.
Uma das mais emblemáticas participações de fora de São Paulo foi a de mato-grossenses, da região onde hoje é o Mato Grosso do Sul. Os revoltosos de lá chegaram até a criar um novo Estado, batizado de Maracaju - existiu de 10 de julho a 2 de outubro de 1932, sem a autorização do governo federal.
O governador foi o então ex-prefeito de Campo Grande, Vespasiano Barbosa Martins. Dele, ficou um manifesto. “São Paulo levantou, mato-grossenses, o lábaro da guerra para salvar o Brasil. Nenhum mato-grossense válido pode fugir à luta redentora. Tivemos campanhas políticas memoráveis, revoluções por nobres ideais. Nenhuma, porém, teve a magnitude, a nobreza, o ideal alevantado como esta - buscando extinguir um governo sem lei, para dar ao povo a sua Constituição, a sua Lei sagrada”, diz trecho. “Meus concidadãos mato-grossenses! Nestes dias históricos é esta a palavra de ordem - às armas! Pela continuidade da nossa Pátria! Pela unidade do Brasil! O coração, a vida, pela salvação do Brasil!”
A então sede do governo ainda está preservada: é uma loja maçônica de Campo Grande. Ainda que temporária, essa cisão acabou sendo o embrião da separação da região sul do Estado, o que ocorreria em 1977.
Contexto. “Havia uma razão econômica para que o sul do Mato Grosso apoiasse a causa defendida pelos paulistas. A produção bovina de lá vinha toda para São Paulo”, contextualiza o historiador Paulo Rezzutti, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. “Essa ideia de que era São Paulo contra o Brasil não corresponde à realidade. Foi uma bobagem construída pelo governo federal ainda durante os conflitos, tentando desqualificar o movimento, atribuindo a ele um caráter separatista dos paulistas”, afirma o historiador Marco Antônio Villa, autor do livro 1932: Imagens de uma Revolução.
Quanto a Maracaju, o projeto teve de ser abortado, naquele momento, quando as tropas federais conseguiram conter todos os ímpetos revolucionários. “Em setembro, com o jogo já perdido, começaram as negociações para que a ideia de separação, naquele momento, fosse descartada”, conta Villa.